Elos Clube de Tavira

Janeiro 09 2011

 

 

Francisco José de Sousa Soares de Andrea*, se a memória me não falha, era o nome do valente general que pacificou o Pará, por ocasião da cabanagem. Devi a esse homem distincto a satisfação de o ter conhecido pessoalmente, porque elle dignou-se ir de propósito à casa onde eu era caixeiro para me conhecer também. Eu tinha apenas onze annos (1838); mas creio poder affirmar, sem immodéstia, que n’aquele tempo, as duas celebridades mais notáveis do Pará (Belém) eram o chefe da província... e eu. Elle distinguia-se pela energia com que batia os cabanos, pelo rigor que mantinha a disciplina militar e provia á defeza da cidade, ainda ameaçada por bandos de facínoras, espalhados pelos rios ou matas próximas; eu, pela audácia com que punia todas as pessoas que me insultavam, sem attenção ao seu tamanho, qualidade, sexo, ou número, e pela perícia com que lhes quebrava as cabeças, com os pesos das balanças ou com as garrafas de aguardente. A fama do general offuscava um pouco a minha, attendendo-se à posição mais elevada do presidente da província; mas os caixeiros da cidade affrmavam que, em vista da minha idade, eu era muito maior que Andrea!

 

Elle costumava ir frequentemente a casa de um meu vizinho, chamado João António Rodrigues Martins, irmão ou primo do barão de Jaguarari, que ficava fronteira ao estabelecimento onde eu era caixeiro. Das janellas d’essa casa via-se toda a rua da Paixão, até ao largo do palácio do governo; passavam por ali às vezes os presos cabanos, agarrados nos matos mais próximos de Santo António, Reducto e Paúl de Água, e não raro era que o presidente desse instrucções às escoltas que os conduziam, quando lhes passavam por baixo das janellas, mandando fazer nesses assassinos justiça summaria. Entre outros, recordo-me do seguinte facto:

 

Dois soldados conduziam um preso, segurando-o cada um do seu lado, pela cintura, e levando as baionetas desembainhadas. Andrea, que estava conversando ao pé da janella, viu-os e gritou:

 

- Ó soldado! Quem é esse homem?

- É o Diamante, meu general.

- O Diamante?!

- Sim, senhor.

- Tens a certeza d’isso?

 

O preso, que era homem de cor, entre preto e mulato, dos que no paiz denominam cafuzes, alto, musculoso, de olhar feroz e atrevido, voltou-se para a janella, onde se tinha reunido a família da casa, e, depois de encarar por um instante o general e as outras pessoas, disse:

 

- Vosserencia custa à capacitá que sô eu mesmo? Tem razão; Diámante não deixava apanhá por seu sordado, si não tivesse caído quando corria em Páu d’Água. Agora pode matá Ere, que já vingou, picando muito sordado de vosserencia. E tem pena de não matá vosserencia mesmo.

 

Toda a família se retirou para dentro, revoltada com a insolência do preso. Andrea disse para o soldado, deitando-lhe à rua um bilhete, rapidamente escripto a lápis

 

- “Dize lá ao ajudante,

Que sendo esse o Diamante,

O mande já lapidar.”

 

Não sei se elle teve a intenção de fazer versos; mas as palavras soaram-me do modo por que as escrevi nos meus apontamentos, há mais de trinta anos, e como transcrevo agora. Penso que Andrea não desgostava de rimar... mas corria como certo, no Pará, onde havia milhares de anedoctas a respeito de Andrea, umas cómicas e com pilhas de graça, outras dramáticas ou trágicas. Em todas as províncias onde elle exerceu comando, ficou um homem lendário. Com relação ao Pará, foram immensos os serviços que ali prestou, e sem a sua grande energia não se tinha pacificado a província em tão pouco tempo. Elle saía de noite, disfarçado, para rondar as guardas e sentinelas, e era implacável com as que apanhasse dormindo. Alguns negociantes, portuguezes e brazileiros, que tinham sido obrigados a sentar praça n’um corpo de polícia, para defeza da cidade e sua própria, foram por vezes duramente punidos, até com pauladas, por infracções de disciplina! Os cabanos estavam costumados a zombar das auctoridades legaes, que dormiam muito; por isso só quando que Andrea os lapidava sem piedade, é que se convenceram de que havia passado o seu S. Martinho.

 

Resta-me explicar por que motivo tive a honra de ser visitado por aquelle homem distincto. No prefácio do “Cantos Matutinos” ** referi uma das minhas proezas, a qual foi eu ter batido com uma grande colher, cheia de manteiga, na cara de um escravo do presidente do Pará. Quando o mulato recolhia a(o) palácio, pingado desde a cabeça até aos pés, e com os olhos vermelhos do sal da manteiga, encontrou o senhor, que se dirigia para casa dos meus vizinhos. Sabedor do caso, o general entrou no estabelecimento, onde eu estava chorando, com as dores das palmatoadas que recebêra do meu ingrato patrão, por prémio de tão glorioso feito.

 

- Foi o senhor quem quebrou a cara do meu escravo?

- Fui; e por causa daquelle patife, apanhei duas dúzias de palmatoadas!...

- Bem merecidas!

- O senhor diz-me isso?!

- Aposto que me quer dar também com a colher de manteiga?!

- Chame-me gallego, marinheiro, bicudo ou pé de chumbo***, como fez o biltre do seu escravo... e verá!

 

Andrea quis sorrir-se e fez uma careta medonha. O motivo, que só mais tarde comprehendi, provinha de elle também ser portuguez; mas fizera-se brazileiro e não gostava que lhe lembrassem essas diffrenças.

 

- O meu rapaz chamou-lhe esses nomes?

- Por que lhe bateria eu?!

 - Quem sabe?! Vejo-o quase todos os dias atirar pedras aos pretos, quebrar cabeças e fazer tanta bulha n’esta rua!...

- É porque não estou resolvido a deixar-me insultar.

- Quantos annos tem?

- Onze.

- Promete! Continue assim, que há-de ir longe!

 

Saíu; e eu, que tomei a ironia por um cumprimento, fiquei todo vaidoso e ufano de ter ensinado o escravo, sem me lembrar já da sova que isso me custara. D’ahi em diante, quando via passar o homem ilustre, que tinha querido conhecer-me, perfilava-me ao balcão, à espera de novo elogio; mas o grande marechal nunca mais se dignou olhar para mim, nem o seu creado tornou ao estabelecimento!

 

O meu patrão, despeitado com a perda do freguez, poz-me fora por incorregivel!

 

Assim se apreciam e premeiam as mais bellas acções!

 De “Ódio de Raça” – vol 2 – de Francisco Gomes de Amorim, 1874. Manteve-se a ortografia original.

 

*- O general Andrea nasceu em Lisboa em 1781 e morreu em São José do Norte, Brasil, em 2 de outubro de 1858. Foi presidente da Provincia do Pará entre 9 de abril de 1836 a 7 de abril de 1839.

 

**- Se não conhece esta história veja em http://fgamorim.blogspot.com/2009/03/francisco-gomes-de-amorim-outro-bisavo.html

 

***- Estes eram os nomes que chamavam, depreciativamente, aos portugueses!

 

Rio de Janeiro, 2 de Janeiro de 2011

 

Francisco Gomes de Amorim (neto)

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 10:59

Janeiro 04 2011

 

 

XI JOGOS FLORAIS DO ELOS CLUBE DE TAVIRA

 

Modalidade – PROSA

 

Classificação – 1º. PRÉMIO

 

Autor – JOÃO BAPTISTA COELHO, de São Domingos de Rana

 

Título – RAIZ, TRONCO E FLOR DA LÍNGUA MÃE

 (*)

 

De entre uma plêiade muito vasta de gente que devotou parte considerável da sua vida à divulgação da Língua Portuguesa no Mundo e à dilatação do conhecimento da nossa cultura e do nosso património – desde Luís de Camões a António Sérgio, de Vasco da Gama e de outros nautas portugueses a Agostinho da Silva, de João de Deus a Vitorino Nemésio, ou de Fernando Pessoa a Amália Rodrigues e aos nomes incógnitos dos leitores de português nas universidades estrangeiras – difícil se tornou escolher um nome qualquer para este trabalho. Quase que ao acaso, optámos por alguém nascido em Lisboa nos primórdios do século XVII.

 

Embora tivesse largado o chão natal muito cedo, com pouco mais de sete anos de idade, rumo ao Brasil, acompanhando seus pais que para lá emigraram, ali começou os seus estudos e aos quinze ingressava, por vocação religiosa inabalável despertada por um sermão que ouvira, no noviciado da Companhia de Jesus.

 

Vocacionado para o estudo das humanidades, já aos dezassete se atrevia a debruçar-se e comentar textos de Séneca e de Ovídeo e, logo após, dissertar sobre a Bíblia e Acerca da doutrina emanada do “Cântico dos Cânticos”.

 

Aluno de excepcional craveira na disciplina de filosofia, os seus superiores tiveram que impedi-lo de se votar à evangelização dos pagãos, por lhe reconhecerem asas mais largas para as abrir ao mundo inteiro.

 

O Padre António Vieira que ascendeu ao sacerdócio com vinte e sete anos de idade, passou, desde então, a leccionar teologia numa sequência natural dos sermões que já então proferia com louvor dos seus mestres que chegaram ao ponto de dizer que nada tinham para lhe ensinar.

 

Aliava à dimensão dos seus conhecimentos e ao carisma da sua eloquência um talento enorme na oratória que logo às primeiras palavras prendia quem o escutava.

 

Naturalmente que, deste modo, é fácil adivinhar o quanto o seu nome se projectou para fora do Brasil, levando aos confins do mundo a sua língua-mãe e a sua mística doutrinária.

 

O nome de Portugal que, já antes, vinha sendo divulgado pelos nautas de Quinhentos, em África e no oriente, mormente nos padrões afixados nos territórios que se iam descobrindo, exibindo as armas da lusa gente, viu-se, pela riqueza da escrita e pela luz das palavras proferidas por aquele sacerdote, ainda mais elevado no conceito universal. Se uns plantavam um monumento de pedra…Vieira semeava palavras no espírito. E foi raiz! E foi tronco! E foi flor da Língua que os portugueses, ainda hoje continuam falando!

 

O Padre António Vieira, falecido há mais de 340 anos – por toda a obra que deixou, por toda a divulgação que fez da nossa língua, pela força da riqueza da sua palavra ainda viva na nossa História – tal como Camões ou como outros que tais, não morreu. Há gente que tem o dom da imortalidade. Vieira é um deles.

 

 

(*)http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://sebentadigital.com/wp-content/gallery/projectos_leitura_logos/padre_antonio_vieira.gif&imgrefurl=http://sebentadigital.com/2008/11/28/louvor-das-virtudes-dos-peixes-no-sermao/&usg=__Dnn2ANpb2TAfzurX88DicA4jae8=&h=200&w=450&sz=72&hl=pt-pt&start=46&zoom=1&tbnid=wufQRNBAjwJM4M:&tbnh=149&tbnw=220&prev=/images%3Fq%3Dpadre%2Bantonio%2Bvieira%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbs%3Disch:10%2C1634&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=220&vpy=384&dur=3385&hovh=150&hovw=337&tx=184&ty=64&ei=Y-siTY_DFtPh4gao27SGAg&oei=TesiTf_TMY7vsgap7ZDaDA&esq=4&page=4&ndsp=15&ved=1t:429,r:6,s:46&biw=1007&bih=681

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 09:33

Dezembro 21 2010

 A casa da oliveira

 

LUIS DE MELO E HORTA

 

Novo livro apresentado na Biblioteca Municipal de Tavira No passado dia 18 de Dezembro, na Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, em Tavira, mais de uma centena de pessoas testemunhou a apresentação do novo livro de Luís de Melo e Horta, “A Casa da Oliveira”, com Prefácio do Dr. David Sequeira.

 

A sessão teve a comparência do Presidente da Câmara Municipal, Dr. Jorge Botelho, acompanhado na Mesa pelo Vice-Presidente Arquitecto Luís Nunes, pelo Dr. David Sequeira, pelo Dr. Jorge Correia e pelo autor.

 

Trata-se de uma obra de ficção, virada no entanto para “As contingências sociais e económicas que envolveram a sociedade tavirense” e, segundo o autor, “A simbologia em que a “Casa da Oliveira” se constitui como “figura principal” não dispensa, antes reforça, a importância do registo de uma família numerosa, na forma muito especial e muito solidária da sua vivência, a partir dos anos 30 e até final do Século XX, ali reconstituída”.

 

Com a apresentação do livro a cargo do Dr. David Sequeira, o Presidente do Município e o Dr. Jorge Correia tiveram intervenções de incentivo à continuidade para com o autor, que finalizou a sessão abordando a natureza e a importância da família como pilar da sociedade nas dificuldades e no embate social que o mundo atravessa.

 

Muito da experiência do autor no âmbito da Comunicação Social assenta na inventariação de carências locais e regionais e na observação da forma como se desenvolvem as relações humanas, no concreto de comunidades urbanas como Tavira que fielmente retrata por directo conhecimento.

 

Luís Horta, que é fundador e actual Presidente da Assembleia Geral do Elos Clube de Tavira e tem mais de meio século de ligação ao jornalismo, foi co-fundador de vários jornais em Tavira, entre os quais o “Jornal do Sotavento”, do qual exerceu o cargo de Director durante 19 anos, órgão da imprensa regional que há cerca de um ano interrompeu os seus quase vinte anos de publicação.

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 14:35

Agosto 28 2010

 

 

"O senhor mire, veja: o mais

importante e bonito do mundo

é isto: que as pessoas não

estão sempre iguais, ainda

não foram terminadas... "

(Guimarães Rosa)

 

............................................................................

 

 

-Sabe porque mandei chamá-lo, Seu Cirineu!

-Sei não doutor, sei não Seu Delegado...

-O sr sabe o que é isso?

-Depende, doutor. Depende muito...

-O sr não me enrole, está vendo, Seu Cirineu? Não me maroteie.

-É só uma ideaiazinha minha, doutor.

-O sr todo santo dia, sem tirar nem pôr, sem parar, faz uma mensagem de pedido de socorro curta e grossa, envia numa garrafa de cerveja que entorna de vereda feito um viciado de miolo mole, e atira numa vazão do Rio Itararé?

-Pois é, Seu Dr. Não pensei que um bendito dia iriam descobrir esse meu segredinho de mala e cuia, esse meu defeito de fabricação por assim dizer, esse meu probleminha...

-O sr bate bem da cachola, Seu Cirineu?

-Foi só uma mera tentativa, Seu Dr, não quis importunar ninguém...nem fazer feio, sequer quis chatear o sr...

-Sabe quantas garrafas dessas, com seus inusitados pedidos, foram recolhidos nesses mais de 365 dias, Seu Cirineu?

-Sei não, dr, sei não...

-Parece que já pegaram outras, aos montes, semeadas aqui e ali... Aliás, falando sério, diga-me lá, o sr nunca teve um retorno qualquer, desses seus pedidos, de alguma maneira, por algum motivo ou situação de resposta incrível?

-É a primeira vez que me acham... quero dizer, que sou inoportuno, e ainda acabo assim sendo um baita empecilho para o sr, não é Dr. Feijão?

-Bem, é o seguinte, Seu Cirineu: nada pessoal, sabe, mas o sr precisa fazer um, ponhamos, tratamento. Compreende? O sr deveria procurar o Dr Jonas de Alencar na Santa Casa. Sabe, talvez de morar ali pertico da Gruta da Barreira, do Parque Ecológico das Andorinhas Bentas, o sr esteja influenciado, talvez sofra alguma radiação, sabei-me lá... Além do sr deixar de poluir o Rio Itararé com uma bendita garrafa todo santo dia, ainda iria melhorar muito do juízo, ter companhia, tomar uns remédios, viver melhor. O sr me entende; compreende o que eu estou tentando dizer?

-O sr por acauso leu a mensagem que vai sempre dentro da garrafa, Dr Feijão?

-Sempre a mesma...sempre a mesma...disseram...

-Quem "disseram", dr?

-Não importa, sei que é sempre a mesma mensagem de pedido de socorro que o sr enfia dentro da garrafa vazia de cerveja...

-Então o sr por certo, leu direitinho...

-Digamos que li sim, Seu Cirineu. Li sim.

-E então, dr, falando francamente, o que o sr acha? Eu estou pirando? O meu grito de agonia tem cabimento, faz sentido, há alguma saída pro meu causo?

-Sabe, seu Cirineu, cá entre nós, que ninguém nos ouça, falando do fundo do meu coração, se eu pudesse, se eu não fosse normal, comum, se eu não fosse autoridade constituída por lei, eu, sinceramente, faria a mesma coisa, a mesma mensagem, até num rio maior, quem sabe...

-Então o sr não vai me prender, abrir inquérito, coisa de-assim?

-Não vou não, Seu Cirineu. Chamei o sr aqui mais por obrigação, desencargo formal de consciência, sabe, foi o pessoal da seccional do IBAM (1) que trouxe o problema...

-Devem de achar que eu sou um purgante, cabeça de vento, da pá virada, miolo mole...

-Não sr, até respeitaram a sua mensagem, o seu objectivo. Acho que me trouxeram uma das garrafas mais por obrigação de ofício, só isso.

-O sr vai fazer o quê, então, Dr Feijão?

-Nada, só um termo de circunstância, carimbo, papel oficial, assinar e mandar pró arquivo morto...

-E depois vai me liberar sem qualquer sanção?

-Claro, Seu Cirineu. O sr está livre. Sabe, este mundo do jeito que vai, precisa de mais gente sensível como o sr. Foi um prazer enorme conhecê-lo, uma grande honra pra mim, sabe. Fiquei até comovido. Aprendi muito com o seu gesto, a sua alma de pássaro, a sua sensibilidade fora do comum. Falando francamente, sinceramente espero que um dia alguém certo acabe achando a sua mensagem, alguém desse ou de outro mundo, sabe, o recebedor certo, a dimensão certa... e então o sr seja atendido, resgatado...liberto... talvez... quem sabe...

-Então vou indo, Seu Delegado. Tenho que passar no Armazém do António Pelissari ainda, comprar a bóia do mês.

-Vá com Deus, Seu Cirineu. O sr se cuide direitinho, hein?

 

E o aparentemente agora cândido do Seu Cirineu, um viúvo sexagenário sem herdeiros ou ancestrais vivos, ex chefe-de-trem aposentado da Estação Sorocabana, viajado nas malhas dos ramais ferroviários da região de Itararé toda, ainda algo encabulado, com problemas hormonais mais alguma ocasional depressão pela solidão-coivara, responde, ao seu jeito de treva branca, todo moleirão:

-Obrigado dr. Prometo que quando tomar a próxima cerveja preta de novo, ao escrever a mesma mensagem de sempre, vou pensar muito no sr. Com esperança de que, nalgum lugar eu seja finalmente identificado, e venham me levar de volta para a minha casa que é do outro lado...que venham me levar para o meu verdadeiro lar... pois minha alma não é desse mundo, e deve certamente que haver uma Itararé Celeste... uma Shangri-lá... uma Pasárgada...

 

Silas Correa Leite

 

(1) – IBAM – Instituto Brasileiro do Ambiente

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 10:15

Junho 01 2010

 Ferreira Gullar é Prémio Camões 2010

 

O escritor brasileiro Ferreira Gullar é o vencedor do Prémio Camões 2010

 

O júri revelou que o prémio foi disputado entre o autor brasileiro e a portuguesa Hélia Correia. Ferreira Gullar ainda não foi informado da atribuição do prémio uma vez que, até ao momento, não foi possível contactá-lo.

 

Nascido em 1930, no Maranhão, Ferreira Gullar é o pseudónimo de José Ribamar Ferreira. Em Portugal a sua obra está publicada pelas Quasi Edições.

 

O prémio, anunciado há minutos pela ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, vem distinguir o poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, argumentista de teatro e televisão, memorialista e ensaísta brasileiro.

 

Vencedor por duas vezes do Prémio Jabuti (1999 e 2007), Gullar foi ainda indicado ao Nobel em 2002.

 

O escritor octogenário recebe assim a mais alta distinção literária atribuída a um autor de língua portuguesa. Esta é já a vigésima segunda edição do prémio que distingue toda a obra de um autor, com cem mil euros.

 

O júri desta edição foi presidido por Helena Buescu, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e composto por José Carlos Seabra Pereira, professor associado da Universidade de Coimbra, Inocência Mata, professora santomense de Literaturas Africanas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e professora convidada em várias universidades brasileiras e norte-americanas, Luís Carlos Patraquim, escritor e jornalista moçambicano, António Carlos Secchin, escritor e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ainda pela escritora brasileira Edla van Steen.

 

 

Com Gullar o número de escritores brasileiros galardoados passa a ser nove. O último escritor vencedor do Prémio Camões foi o cabo-verdiano Arménio Vieira (2009). Nos anos anteriores foram distinguidos o brasileiro João Ubaldo Ribeiro (2008) e o português António Lobo Antunes (2007).

 

O Prémio Camões foi criado por Portugal e pelo Brasil em 1989 e é o maior prémio de prestígio da língua portuguesa. O objectivo é distinguir um escritor cuja obra contribua para a projecção e o reconhecimento da língua portuguesa.

 

Na primeira edição do prémio (em 1989), o escritor distinguido foi o português Miguel Torga.

 

in «Sol» – Lisboa, 31MAI10

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 10:19

Abril 14 2010

Estados Unidos: Ungulani fala sobre literatura dos PALOP

 

Maputo, Segunda-Feira, 5 de Abril de 2010

 

 

O conceituado escritor Ungulani Ba Ka Khosa – pseudónimo literário para Francisco Esaú Cossa – parte hoje para os Estados Unidos da América, onde vai participar em palestras e seminários sobre as literaturas africanas de expressão portuguesa.

 

Nos Estados Unidos, Ungulani estará na companhia de outros escritores de países africanos de expressão portuguesa, nomeadamente Ondjaki e Pepetela, de Angola, e Germano de Almeida, de Cabo Verde.

 

As jornadas literárias vão ter lugar nas Universidades norte-americanas de Brown, em Providence, Rhode Island, Universidade de Rugters, em Newark, Nova Jersey, e na Universidade de Georgetown, em Washington, num evento que arranca amanhã e vai decorrer até o próximo dia 15 do mês em curso. A viagem de Ungulani Ba Ka Khosa tem o patrocínio da Electricidade de Moçambique (EDM).

 

Ungulani disse que vai estar presente em encontros nos quais irá debruçar-se sobre as literaturas africanas de expressão portuguesa, com particular enfoque para a produção moçambicana actual.

 

“Será um discorrer sobre a produção literária de cada um dos países donde são provenientes os convidados. Eu falarei do panorama literário moçambicano”, disse Ungulani, dissertando sobre o actual estágio da literatura nacional e do aparecimento de editoras que permitem que mais escritores tenham expressão, frisando a abertura do exterior face às literaturas africanas de língua portuguesa.

 

Dos escritores com os quais vai estar, Ungulani já privou com Ondjaki num encontro que teve lugar em Moçambique. Quanto aos outros dois esta será a primeira vez, não obstante conhecer as suas obras.

 

Portanto, esta é, segundo ele, uma oportunidade para a troca de experiências e para estabelecer uma discussão em torno do que se faz em cada um dos países africanos de expressão portuguesa.

 

Ungulani Ba Ka Khosa (Francisco Esaú Cossa) nasceu a 1 de Agosto de 1957, em Inhaminga, província de Sofala. Tirou Bacharelato em História e Geografia na Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane, exercendo a função de professor.

 

Iniciou a sua carreira de escritor com a publicação de alguns contos e participou na fundação da revista Charrua na Associação de Escritores Moçambicanos, de que é membro.

 

Publicou as obras Ualalapi (1987), Orgia dos Loucos (1990), Histórias de Amor e Espanto (1999), No Reino dos Abutres (2002), Os Sobreviventes da Noite (2007) e Choriro (2009).

 

Ualalapi foi distinguida em 1990 com o Grande Prémio da Ficção Narrativa; em 1994 com o Prémio Nacional de Ficção e em 2002 foi considerada como um dos melhores livros africanos do Século XX. Em 2007 venceu o Grande Prémio de Literatura José Craveirinha, com a obra “Os Sobreviventes da Noite”.

 

 

http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/

 

Para saber mais sobre Ungulani, veja p. ex. em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ungulani_Ba_Ka_Khosa

 

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 10:24

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