Elos Clube de Tavira

Setembro 12 2010

 

 http://www.intersonic.com.br/sonicbiologia/doninha.png

 

 

La Fontaine tem fábulas em qualquer área

E para quaisquer ocasiões.

Não tenho dúvidas quanto a esta verdade,

Nem indecisões

A respeito da universalidade

Da sua produção extraordinária.

A doninha que entra magra num celeiro,

Por um buraquinho,

E não consegue sair

Nem fugir

Porque o buraco ficou apertadinho

Para quem, como ela, comeu que se fartou

E muito inchou,

Tem uma consagração

Tão geral

- Direi mesmo global –

Que nem precisa de explicação,

Tal a frequência da sua aplicação

Antiga e actual.

Mas ainda mais hoje em dia

Com tanta doninha

Entrada magrinha

No buraco estreito da casinha

- Ou sequer Nação –

Em enorme proliferação

Que em breve o celeiro

Perde o alimento inteiro

Nada sobrando

Para a maioria

Cuja soberania

Só ficou na canção

Da vila alentejana consagrada,

Mas apenas como poesia

Falhada.

Aliás, ninguém mesmo

pensa em passar

O buraco estreito do celeiro

Preferindo ficar por inteiro

Até findar

A refeição, Sem pensar

Em emagrecer

Ou o peso perder.

 

Vejamos então

A tradução

Sem mais questão,

Que o La Fontaine

Também dá a explicação:

 “A doninha que entrou no celeiro”

Donzela Doninha,

Corpo longo e sinuoso

Entrou num celeiro

Por um buraco manhoso.

Saíra de doença recente

Mas, sempre tesa,

Comeu à tripa forra no celeiro,

Cheia a mesa,

Comeu, roeu, sabe Deus

Com que fervor,

E o toucinho desapareceu,

Sem nenhum pudor.

Ei-la, em conclusão,

Gorda, opada, como o Sebastião Comilão.

Ao fim de uma semana

Tendo comido a seu prazer,

Ouve um ruído sacana,

Quer abalar,

Pelo buraco não consegue passar,

Julga que se enganou

Depois que tanto o procurou.

Diz ela então:

É este o buraco, sem objecção,

Há cinco ou seis dias por ele passei

Bem sei.

Um rato que a viu em aflição

Comentou desta feita:

- “É que, então,

A sua pança estava mais estreita:

Entrou magra, magra deve sair

Não há que discutir.

O que lhe estou a dizer

Digo-o a muitos mais,

A outros que tais,

Mas não confundamos,

Para não aprofundar,

Nem me prejudicar,

Os negócios deles,

De ambição sem solidariedade,

Com os seus, doninha,

De mera voracidade.

 

Berta Brás

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 16:58

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