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La Fontaine tem fábulas em qualquer área
E para quaisquer ocasiões.
Não tenho dúvidas quanto a esta verdade,
Nem indecisões
A respeito da universalidade
Da sua produção extraordinária.
A doninha que entra magra num celeiro,
Por um buraquinho,
E não consegue sair
Nem fugir
Porque o buraco ficou apertadinho
Para quem, como ela, comeu que se fartou
E muito inchou,
Tem uma consagração
Tão geral
- Direi mesmo global –
Que nem precisa de explicação,
Tal a frequência da sua aplicação
Antiga e actual.
Mas ainda mais hoje em dia
Com tanta doninha
Entrada magrinha
No buraco estreito da casinha
- Ou sequer Nação –
Em enorme proliferação
Que em breve o celeiro
Perde o alimento inteiro
Nada sobrando
Para a maioria
Cuja soberania
Só ficou na canção
Da vila alentejana consagrada,
Mas apenas como poesia
Falhada.
Aliás, ninguém mesmo
pensa em passar
O buraco estreito do celeiro
Preferindo ficar por inteiro
Até findar
A refeição, Sem pensar
Em emagrecer
Ou o peso perder.
Vejamos então
A tradução
Sem mais questão,
Que o La Fontaine
Também dá a explicação:
“A doninha que entrou no celeiro”
Donzela Doninha,
Corpo longo e sinuoso
Entrou num celeiro
Por um buraco manhoso.
Saíra de doença recente
Mas, sempre tesa,
Comeu à tripa forra no celeiro,
Cheia a mesa,
Comeu, roeu, sabe Deus
Com que fervor,
E o toucinho desapareceu,
Sem nenhum pudor.
Ei-la, em conclusão,
Gorda, opada, como o Sebastião Comilão.
Ao fim de uma semana
Tendo comido a seu prazer,
Ouve um ruído sacana,
Quer abalar,
Pelo buraco não consegue passar,
Julga que se enganou
Depois que tanto o procurou.
Diz ela então:
É este o buraco, sem objecção,
Há cinco ou seis dias por ele passei
Bem sei.
Um rato que a viu em aflição
Comentou desta feita:
- “É que, então,
A sua pança estava mais estreita:
Entrou magra, magra deve sair
Não há que discutir.
O que lhe estou a dizer
Digo-o a muitos mais,
A outros que tais,
Mas não confundamos,
Para não aprofundar,
Nem me prejudicar,
Os negócios deles,
De ambição sem solidariedade,
Com os seus, doninha,
De mera voracidade.
Berta Brás