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DA ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS
Nos tempos que correm só se pensa na competitividade; eis o pós-modernismo em toda a sua pujança.
O pós-moderno é ateu ou, no mínimo, agnóstico; para ele a vida é esta em que estamos e mais nenhuma. Por isso mesmo quer TUDO, e JÁ! E como não se sente vinculado a uma Moral, também ignora a correspondente Ética. Ou seja, tudo vale para que alcance imediatamente a sua própria felicidade sem sacrifícios pessoais mas eventualmente à custa dos alheios. Egocêntrico, assume o egoísmo como algo de natural e fá-lo de consciência tranquila, sem sentimento de culpa, porque amoral e aético. Assim se confunde com hedonista sem sequer saber que o é nem o que tal palavra significa. O meu cão também é hedonista: quer todo o prazer de imediato; não gere a sorte da fortuna.
Chegámos ao ponto em que não se olha a meios para atingir o objectivo que cada um se auto-atribui sem querer minimamente saber se tal desiderato corresponde ou não ao bem comum. A desorientação global resulta da abdicação que os governos fizeram de todos os conceitos para além da sacralizada competitividade.
Não havendo uma Autoridade democrática que inequivocamente defina o bem-comum, corre-se o risco de aparecer alguém que o faça marginalmente à democracia. E o que não é democraticamente discutido pode com toda a facilidade não corresponder ao bem comummente definido.
E, então, foi assim: quando a inovação tecnológica deixou de proporcionar as margens de lucro ambicionadas por estes vorazes, restou-lhes a matéria-prima alvo da sua cobiça, o dinheiro. Assim foram os «capitães de indústria» substituídos pelos magnatas da finança e do investimento produtivo se passou à especulação bolsista em que se vende «gato por lebre» sendo que até vendem o gato mesmo antes de o comprarem.
E de tanto dela abusarem, a corda da sorte esticou, rebentou e ficámos a braços com a bancarrota mundial… As poucas lebres andavam perdidas no meio de muitos gatos e saíram da cena todas arranhadas.
Que fazer? Eis a questão cuja resposta não passa pelo encarceramento do todos os culpados pois não há grades suficientemente grandes para aprisionar meio mundo. E a reciclagem de mentalidades vai demorar...
Creio que chegou a hora de celebrarmos uma missa de requiem pelo Liberalismo pois é altura de reconhecermos que não é ao mercado anónimo e suas forças ocultas que compete gerir o bem-comum. Vilfredo Pareto que me desculpe, reconheço as suas boas intenções mas dessa tarefa, a da prossecução do bem-comum, se devem encarregar em especial os Governos democraticamente eleitos com base em Programas claros e evidentes para o eleitor comum.
Liberalismo, R. I. P.
Mas não podemos celebrar por defunto sem lhe encontrarmos um herdeiro. E se a laicização da sociedade actual induz menos ao temor da ira divina do que nas dos nossos antepassados, pugnemos por princípios aceitáveis pelas elites futuras que orientem globalmente a sociedade em que hão-de viver os nossos sucessores. Para isso cito D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, no seu livro “1810-1910-2010 DATAS E DESAFIOS” na pág. 121: «as coisas não são boas ou más porque Deus as mande ou as proíba; antes as manda porque são boas e as proíbe porque são más». Ou seja, tanto o bem como o mal existem fora da discussão teológica e por isso é possível erigirmos uma Ética agnóstica que se fundamente nos princípios do Decálogo, na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 e nos Valores Humanistas de inspiração Lusíada.
Chegámos a Finisterra: só nos resta atirarmo-nos ao mar ou darmos meia volta e meditarmos ponderadamente o que queremos fazer da vida.
Por que esperamos?
Henrique Salles da Fonseca