Não há propriamente uma BD (Banda Desenhada) portuguesa. Há uma BD feita em Portugal – é esta, em síntese, a opinião de João Mascarenhas, o autor português de O Menino Triste, convidado especial do 7º Festival Internacional de Banda Desenhada e Animação "Luanda Cartoon", a decorrer até sexta-feira, co-organizado pelo estúdio Olindomar e pelo Centro Cultural Português/Instituto Camões da capital angolana, com direcção do cartonista angolano Olímpio de Sousa.
Em Portugal, actualmente, «a diversidade de estilos é tal que será difícil ‘reconhecer’ uma BD como tendo uma característica estritamente nacional, contrariamente, por exemplo, ao que existe no Japão com a mangá ou nos Estados Unidos com os comics», diz João Mascarenhas, que publica desde 1983, tendo começado pela revista Esboço, de Coimbra.
Mas, inserindo-se no «mosaico multicolor» de estilos e tendências que caracterizam hoje em dia a BD mundial, os autores portugueses, que se expressam internamente «sobretudo através de publicações amadoras (os fanzines), na internet, e de um ou outro álbum de cariz profissional», apresentam uma «capacidade tal, que facilmente se adaptam» a diversos estilos, «e com imenso êxito», inclusivamente no exterior, «não apenas pela sua qualidade, mas também porque têm um ritmo de produção que se adequa a esses mercados», refere João Mascarenhas. Essa capacidade de adaptação está patente no próprio posicionamento que assume. «Sou um pouco “camaleão” na BD, ou seja, adapto o meu traço à natureza do tema da história que desenho, indo de um estilo mais caricatural até a um mais realista».
Em seu entender, existe ainda um «grande universo» inexplorado – o mundo de expressão portuguesa, «em que se poderiam colocar e circular as obras dos vários países que utilizam a língua de Camões. Então aí sim, poderíamos falar de uma BD de língua portuguesa, num sentido mais vasto».
A Essência, da série O Menino Triste. João Mascarenhas Falando ainda antes de viajar para Angola, onde no âmbito do Luanda Cartoon está patente uma selecção dos seus trabalhos, João Mascarenhas considerou, tendo em conta o que viu da BD angolana, «existem alguns autores com bastante talento». Sobretudo, gosta do «entusiasmo que circula em volta da BD, não apenas dos autores mas do público também». «Acho que através do Festival ‘Luanda Cartoon’, Angola tem uma oportunidade imensa de fazer chegar a 9ª Arte ao grande público, e com isso criar e trazer cada vez mais leitores e amantes da Banda Desenhada para o meio.
A sua participação no festival compreenda ainda a realização de oficinas de trabalho sobre BD, sessões de autógrafos e contacto com autores e público. «Tenho também algumas ideias em mente para falar com alguns autores angolanos, para desenvolver à posteriori. A possibilidade de trabalhos conjuntos, a publicação de fanzines, quer em Portugal quer em Angola fazem parte da «miríade de possibilidades». «Vamos ver quais as mais exequíveis. Tenho também alguns pedidos pessoais de autores e editores portugueses que farei chegar aos autores angolanos».
A Essência, da série O Menino Triste, João Mascarenhas
Além de João Mascarenhas, outro profissional português, Filipe Melo, participa no Luanda Cartoon, juntamente com Marcelo D’salete e Gabriel Rocha (Brasil) e Adjim Danngar (Chade).
A programação prevê a exposição de 60 obras em banda desenhada, cartoons e caricaturas, de artistas angolanos e estrangeiros, a realização de oficinas de trabalho, lançamentos e vendas de materiais ligados à banda desenhada, assim como sessões de autógrafos.
A realização de Cartoon Party – After Party, uma festa na Ilha de Luanda, com sessão de caricaturas ao vivo e um espectáculo de música hip-hop, denominado Pocket Show, são os eventos de destaque do festival, iniciado em 2005, ano em que tiveram lugar as primeiras três edições, tornando-se depois um acontecimento anual.
in Boletim de Setembro do «Instituto Camões»