Elos Clube de Tavira

Junho 27 2010

 

 

A velha casa onde nasci tinha um suporte para a Bandeira Nacional. Era ali, mesmo junto a uma janela da sala que dava para a rua. E dessa janela, aos Domingos e feriados, sem ser necessário sair, se enfiava a argola superior no rodízio e se içava no mastro. E ao fim do dia se retirava, dobrava e acomodava na gaveta inferior da estante de madeira preta do escritório. Sem grandes honras de circunstancia, mas com o respeito que o símbolo nos merecia.

 

Na época, anos quarenta do séc. XX, embora em plena República, os tempos não eram de republicanismo. A bandeira em casas particulares não era muito bem vista. Onde se mantinha, era-o pela convicção de alguns cidadãos que achavam ter encontrado no regime implantado em 1910 a cura para todos males de que enfermava a sociedade portuguesa. Uma ilusão como qualquer outra…

 

O facto, naquilo que nos tocava, tinha a ver com o anterior proprietário, o meu Tio-avô Eduardo Gomes, um indefectível republicano que resolvera instalar o mastro para fazer ondular o símbolo pátrio na sua casa. Ideia que foi seguida pelos seus herdeiros, até que, por imposição municipal, o mastro foi mandado retirar a fim de não prejudicar o trânsito de veículos naquela zona um pouco mais estreita da rua.

 

Os tempos mudaram.

 

Os vários símbolos de independência vão sendo esquecidos. O Hino Nacional já não é, como dantes, ensaiado nas escolas uma vez por semana. As FAP deixaram de ter, em exclusivo, o encargo de defesa da integridade geográfica do País. Agora ou é a NATO ou a Europa. A nossa ZEE (Zona Económica Exclusiva) considerada a sua continuidade com os Açores, é tão extensa que dificilmente será controlada pelos meios que não temos. A língua, com o avançar do Inglês, perde identidade, embora contemos com o Movimento Elista para de alguma forma travar a tendência da supremacia saxónica.

 

Resta-nos a Bandeira.

 

Bandeira que, em época de campeonatos futebolísticos, do Mundo ou da Europa, ressurge com alguma força. Pendurada à janela, desenhada na face dos adeptos, aplicada na roupa, transportada na viatura.

 

A Bandeira portuguesa, atravessado um momento de relativo êxito desportivo, voltou a aparecer nas janelas com maior presença nos núcleos emigrantes da Europa e do resto do Mundo. A euforia, que muitos adjectivam de provinciana, pode ser de curta duração. Pode ser que sim. Mas valeria a pena aproveitar esse calor emotivo e dar à Bandeira Nacional o lugar que merece. A começar por uma larga maioria de Edifícios Públicos onde deixou de aparecer aos Domingos e feriados nacionais. Ou noutros Serviços, onde, por comodidade do seu pessoal, a bandeira é mantida meses e meses seguidos até o tecido desfiar e perder a cor original. E isto acontece um pouco por todo o País.

 

Foi dado o mote. Mas seria bom ensinar, defender, fomentar o prestígio da Bandeira Nacional. Com futebol ou sem futebol.

 

Não só em Portugal. Em todo o espaço lusíada, senhor de uma língua comum, é preciso que se reiterem também os símbolos das suas identidades. A globalidade em que o mundo se move, mais do que aconselhar, exige-o!

 

 Luís M. de Mello e Horta

Presidente da Mesa da Assembleia Geral

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 11:30

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