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Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)! S
e se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trémulos astros...
Solidões lacustres...
— Lemes e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
— Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
Um poema simbolista, à maneira do poeta francês Paul Verlaine, jogando com os sons, como sugestão de estados de alma:
Les sanglots longs
des violons
de l'automne
blessent mon coeur
d'une langueur
monotone.
Tout suffocant
et blême, quand
sonne l'heure.
je me souviens
des jours anciens,
et je pleure...
Et je m'en vais
au vent mauvais
qui m'emporte
de çà, de là,
pareil à la
feuille morte...
O poema de Pessanha joga igualmente com as suas emoções, associadas à musicalidade ou simbolismo dos sons, numa poesia adescritiva, contrária às grandes tiradas retóricas da poesia lírica anterior, em processo aliterativo e sinestésico, os sons amplos, abertos e líquidos - aa, ll, rr - das imagens fugidias da água do rio, ou dos sons do violoncelo, os sons fricativos - ss - contrastantes, com os oclusivos mais duros - pp, kk, tt - os uu e os ee fechados - transpondo sentimentos do transitório, do fugaz, da devastação interior, da morte, concomitantes com a devastação exterior contidos nas imagens das urnas quebradas, dos blocos de gelo...
Foi Ester de Lemos, que fez a sua tese sobre "A Clépsidra de Camilo Pessanha", uma das pioneiras dos estudos estilísticos, que vale a pena consultar.
Berta Brás
Camilo Pessanha |
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Camilo Pessanha |
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Nacionalidade | Portugal |
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Camilo Almeida Pessanha (Coimbra, 7 de Setembro de 1867 — Macau, 1 de Março de 1926) foi um poeta português, considerado o expoente máximo do Simbolismo em língua portuguesa, além de antecipador do princípio modernista da fragmentação.
Vida
Tirou o curso de Direito em Coimbra. Em 1894, transferiu-se para Macau, onde, durante três anos, foi professor de Filosofia Elementar no Liceu de Macau, deixando de leccionar por ter sido nomeado em 1900 conservador do registro predial em Macau e depois juiz de comarca. Entre 1894 e 1915 voltou a Portugal algumas vezes, para tratamento de saúde, tendo, numa delas sido apresentado a Fernando Pessoa que era, como Mário de Sá-Carneiro, grande apreciador da sua poesia.
Publicou poemas em várias revistas e jornais, mas seu único livro Clepsidra (1920), foi publicado sem a sua participação (pois se encontrava em Macau) por Ana de Castro Osório, a partir de autógrafos e recortes de jornais. Graças a essa iniciativa, os versos de Pessanha se salvaram do esquecimento. Posteriormente, o filho de Ana de Castro Osório, João de Castro Osório, ampliou a Clepsidra original, acrescentando-lhe poemas que foram encontrados. Essas edições saíram em 1945, 1954 e 1969.
Apesar da pequena dimensão da sua obra, é considerado um dos poetas mais importantes da língua portuguesa. Camilo Pessanha morreu no dia 1 de Março de 1926 em Macau.
in Wikipédia
(*) http://www.google.pt/imgres?imgurl=https://1.bp.blogspot.com/_262cQzElJNE/SuCc95YDf3I/AAAAAAAAAGU/83T19EpjWgY/s400/CamiloPessanha2.jpg&imgrefurl=http://urbanizacao-vale-mourao.blogspot.com/2009/10/praceta-camilo-pessanha.html&usg=__StqxWcOMpryda4JEN0Ut2tXE8-w=&h=300&w=400&sz=33&hl=pt-pt&start=0&sig2=imIhMo_UzkUBLR-JsgqCFQ&zoom=1&tbnid=YuebbmmA-GZpbM:&tbnh=106&tbnw=151&ei=YJKxTLP_OtmP4gaAoLjZBg&prev=/images%3Fq%3DCamilo%252BPessanha%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1003%26bih%3D551%26tbs%3Disch:10%2C165&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=601&vpy=83&dur=859&hovh=194&hovw=259&tx=140&ty=96&oei=YJKxTLP_OtmP4gaAoLjZBg&esq=1&page=1&ndsp=20&ved=1t:429,r:11,s:0&biw=1003&bih=551