Elos Clube de Tavira

Outubro 12 2010

 João Braz

 

Eu Poeta me Confesso...

 

Porque vim no Algarve à luz do dia,

Menino me criei perto do mar

E, com ele, aprendi a rebeldia

Das ondas altaneiras a lutar...

 

Não sei se nas artérias eu teria

Sangue de avós heróicos a pulsar,

Ou se era de Poetas que trazia

Uma herança de sonho em meu olhar...

 

O certo é que intentei, louco e audaz,

A conquista da vida (era rapaz,

Tinha por mim a esp’rança...), e na memória

 

Vejo-me ainda, coração ao alto

Como um pendão real, ir ao assalto

Com a plena certeza da vitória!

 

__________________

 

João Braz Machado (N. - S. Braz de Alportel, 13.03.1012; F. – Portimão, 22.06.1993), jornalista, poeta e dramaturgo, desde muito cedo mostrou inclinação para as letras, com um primeiro prémio aos 13 anos num concurso de poesia. Apesar disso e depois do curso de contabilista obtido na Escola Comercial de Silves, a sua vida profissional ficou ligado aos números. Radicou-se em Portimão, onde, paralelamente, desenvolveu profícua actividade cultural.

 

Quanto ao jornalismo, foi Director de “A Rajada”, de Silves, colaborou em diversos órgãos da imprensa do Algarve e fundou a revista cultural “Vibração”.

 

Para teatro escreveu Casar por Anúncio, Sendo Assim Está Certo, Fitas Faladas, Isto Só Visto, Feira de Agosto, Autos de El-Rei Xéxé, Serração da Velha e Máscaras, obras representadas em Portimão, mas que nunca foram editadas. A peça “Casar por anúncio” recebeu, a nível nacional, o Prémio Diário de Lisboa.

 

Na poesia, cujos principais títulos foram "Aguarelas Algarvias" e "Esta Riqueza Que o Senhor Me Deu", foi concorrente habitual a nível nacional e internacional, distinguido com o título de “Príncipe dos Poetas Portugueses” nos Jogos Florais Nacionais (1951) e eleito membro da Associação Internacional de Poetas de Cambridge (1977). Em 1992 foi homenageado pela Câmara Municipal de Portimão, e o seu nome figura na toponímia local, onde, desde 2005, existe uma estátua sua, em bronze, na zona ribeirinha da cidade.

 

 Luís Horta

Presidente da Mesa da Assembleia Geral do

Elos Clube de Tavira

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 15:55

Outubro 04 2010

  António Aleixo

 

 

QUADRAS

 

Veio da serra p’ra cidade,

Vender sêmea por farinha…

Passado uns anos já diz:

-“Esta rua é toda minha!”

 

Tu não vais à procissão

P’ra rezar à Virgem Mãe.

Tu vais, para os que lá vão

Verem que tu vais também

 

Que importa perder a vida

Em luta contra a traição,

Se a Razão, mesmo vencida,

Não deixa de ser Razão.

 

Sei que pareço um ladrão,

Mas há muitos que eu conheço,

Que sem parecer o que são,

São aquilo que eu pareço.

 

Vós que lá do vosso Império

Prometeis um mundo novo…

Calai-vos que pode o povo

Qu’rer um Mundo novo a sério.

 

(In “Este livro que vos deixo”)

________________________________________

 

A quadra popular é cultivada um pouco por todo o País e ainda tem entre os menos jovens, muitos dos que a defendem com a garra e os conhecimentos que têm. Estes, às vezes poucos, o que não impede de apresentarem trabalhos muito interessantes e oportunos.

 

António Fernandes Aleixo (N.Vila Real de Santo António – 18.02.1899; F. Loulé 16.11.1949) podia ter sido apenas mais um poeta popular. Mas não o foi só. Não teve vida fácil.

Tecelão, servente de pedreiro em França, pastor e cauteleiro, andou sempre em movimento, de terra em terra, e dos seus versos emana uma certa amargura e desencanto. Mas se essa amargura não esconde que está “de pé atrás” perante o mundo que o rodeia, também mostra que tem das pessoas e das personagens, uma sábia visão e uma critica que nem por ser cáustica, deixa de possuir um conteúdo muito real e muito concreto.

Dois momentos fazem com que a sua obra se não tenha dispersado. Em Coimbra, onde esteve por doença pulmonar, encontra um incompreendido artista plástico algarvio – Tossan – com quem priva durante a permanência de ambos no Sanatório. Mais tarde e já no Algarve, e através de Tossan, é o Dr. Joaquim Magalhães, saudoso professor do Liceu de Faro quem assume o trabalho de guardar e normalizar toda a produção poética.

Vinte anos depois da sua morte e através dos seus descendentes é publicado “Este livro que vos deixo” e em 1978 “Inéditos de António Aleixo”.

Além de ruas com o seu nome em muitas localidades do Algarve, em Loulé, num dos Cafés da Avenida Costa Mealha está uma estátua do Poeta, na esplanada, como se estivesse ainda a vender a suas cautelas da lotaria.

 

  Luís Maria de Mello e Horta

Presidente da Mesa da Assembleia Geral do

Elos Clube de Tavira

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 14:38

Setembro 27 2010

Manuel Virgínio Pires

 

 

Tavira Portas de reixa, cheiro a maresia,

Com chaminés mouriscas rendilhadas,

Embala-se num sonho de poesia,

Onde há lendas de mouras encantadas.

 

Assomam as piteiras nos valados

E o castelo vigia lés a lés,

A serra silenciosa ouve-lhe os brados

E o manso Gilão beija-lhe os pés.

 

Alvas torres de igrejas altaneiras

Muralhas entre flores de amendoeiras,

Aromas de alecrim e rosmaninho:

 

Terra cristã, outrora muçulmana,

Vestígios de D. Paio, ponte romana,

A namorar o rio no seu caminho.

 

Manuel Virgínio Pires

____________________________________

 

Manuel Virgínio Pires, (Tavira, N.04.06.1909, F.13.10.1974), fez o curso complementar do Liceu e profissionalmente foi Adjunto de Tesoureiro da Fazenda Pública e mais tarde chefe da Delegação de Tavira dos Serviços de Turismo.

Em paralelo e desde muito jovem, dedicou-se às letras. Desde 1934, redactor do Semanário local “Povo Algarvio”, de que foi depois proprietário e Director até à data do seu falecimento. Escreveu diversas peças de teatro e revistas, entre os anos 30 e 50 do Sec. XX, tempo em que a actividade teatral da sua terra, Tavira, era bem florescente. Cultivou a poesia não só no âmbito das revistas que escreveu mas em produções que publicava com regularidade no seu jornal. Era irmão de um outro poeta já aqui referenciado, Isidoro Pires. Livros: “Pontas de fogo (gazetilhas) e “Algarve dos meus encantos” (publicado a título póstumo).

Foi-lhe dedicada uma rua na zona nova da cidade.

 

 Luís Maria de Mello e Horta

Presidente da Mesa da Assembleia Geral do

Elos Clube de Tavira

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 22:33

Setembro 21 2010

 

 

Maria Romana

 

Tavira…Cidade Museu

 

 Tavira, és a imagem da quimera,

Trecho do antigo reino adormecido.

Acorda!...mas não mudes o sentido

E vive o amanhã que por ti espera!

 

Possuis potencial que se venera:

- O campo…a Serra…o Mar por Deus ungido…

Olha em frente! se nada está esquecido,

Verás o cintilar de nova Era!...

 

E outros pensamentos surgirão

Envoltos num cenário de beleza

Tendo a história e a cultura só por mira.

 

O Sol e a Lua te contemplarão;

Mas se, para o Gilão, tu és Princesa,

És Rainha p’ra mim, bela Tavira

 

_____________________________________________

 

Maria Romana da Costa Lopes Rosa nasceu em Tavira mas reside em Faro, onde terminou a sua carreira de Enfermeira, da qual está aposentada. Procurou sempre, na poesia e nos contos infantis, suavizar o desgaste profissional de um trabalho em que muitas vezes deparava com situações humanas muito complicadas e de difícil solução. Tem imensos trabalhos publicados na imprensa da Região Algarvia, continuando activa na poesia, nos concursos literários e nos convívios poéticos.

Livros publicados:

Um mundo sensível” (poesia); Histórias de mil cores” e “A Natureza e eu” (contos infantis).

 

 Luís Maria de Mello e Horta

Presidente da Mesa da Assembleia Geral do

Elos Clube de Tavira

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 19:48

Setembro 15 2010

 

 

Porque nasci ao pé de quatro montes,

Por onde as águas passam a cantar

As canções dos moinhos e das fontes,

Ensinaram-me as águas a falar…

 

Eu sei a vossa língua, água das fontes…

Podeis falar comigo, águas do mar…

E ouço, à tarde, os longínquos horizontes

Chorar uma saudade singular…

 

E, porque entendo bem aquelas mágoas

E compreendo os íntimos segredos

Da voz do mar ou do rochedo mudo,

 

Sinto-me irmão da luz, do ar, das águas,

Sinto-me irmão dos íngremes penedos

E sinto que sou Deus, pois Deus é tudo…

 

 Cândido Guerreiro

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________________________________

 

Dotado de uma personalidade multifacetada, Cândido Guerreiro foi um poeta de grande sensibilidade artística, político distinto e notável jornalista. Francisco Xavier Cândido Guerreiro (Alte, 3 de Dezembro de 1871 — Lisboa, 11 de Abril de 1953), foi advogado, dramaturgo e poeta pós-simbolista. Formou-se em direito na Universidade de Coimbra em 1907. Foi notário em Loulé e em Faro.

Este poeta, que fez parte do grupo da "Renascença Portuguesa” foi também, presidente das Câmaras Municipais de Loulé e de Faro no período compreendido entre 1923 a 1941.

O seu "Auto das Rosas de Santa Maria”, foi pela primeira vez representado em 1940, com música de Francisco Fernandes Lopes.

Em Alte, terra natal do poeta, existe uma escola designada "Escola Profissional Cândido Guerreiro" em sua homenagem. A sua casa de Faro está em vias de Classificação pelo IPPAR.

Destacou-se pelos seus valores éticos, de dignidade e honestidade. Pugnou, isento de contrapartidas pessoais, pelo desenvolvimento e modernização de Loulé, nomeadamente na construção da Avª José da Costa Mealha. Mas a honestidade em política paga-se caro, em especial quando se detém algum poder e mérito. Por isso se retirou para Faro em 1923 onde exerceu o cargo de Notário até atingir o limite de idade em 1941 e aqui lhe foi prestada uma homenagem a que se associou o Algarve inteiro.

Segundo David Mourão Ferreira, a sua escrita destacou-se pelo apuro irrepreensível dos  sonetos.

Da sua Aldeia que amava, nunca conseguiu afastar-se, recusando até um cargo diplomático no estrangeiro para o qual tinha sido indigitado pelo Governo da República.

Entre 1895 e 1941 publicou 12 livros de poesia, um dos quais o “Auto das Rosas de Santa Maria (1940).

 

 

 Luís de Mello e Horta

Presidente da Mesa da Assembleia Geral do

Elos Clube de Tavira

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 14:21

Julho 11 2010

 

 

Vivaldo Beldade

 

Menina de Saia Encarnada

 

Menina bonita

De saia encarnada

Que passas na rua

Correndo apressada

Corre contente

Que a vida é ligeira

 

Menina bonita

De saia encarnada

Os teus pensamentos

E os teus caracóis

Parece que bailam

Contigo na lua,

E a tua cabeça,

Ligeira doninha

Parece mais leve

Que uma andorinha

 

Corre menina

De saia encarnada

Que a vida p'ra ti

É sonho e mais nada

 

Vivaldo Beldade

 

______________________________

 

Vivaldo da Conceição Beldade, nasceu em Tavira (1923), vindo a falecer em Faro em 2000. Mestre na arte de Fígaro, foi influenciado pelo ambiente cultural que se vivia em Tavira. Cidadão atento e com alma de poeta, escreveu, em 1954, uma revista popular intitulada “Até quando D. Paio?”, que foi representada com bastante êxito no Teatro António Pinheiro, Tavira.

 

Passados poucos anos transferiu-se para Faro onde montou, com sua mulher, um salão de cabeleireiro. Foi depois funcionário da Comissão Regional de Turismo, onde prestou longos anos de serviço até se aposentar.

 

Durante todo esse tempo não deixou de cultivar a poesia, publicando três livros: “Apenas eu” (1992), “O Algarve é um Rosário” (1998) e “O Meu Sol-Pôr” (1998). Este último foi apresentado em Tavira, no Salão Nobre da Câmara Municipal.

 

De toda a sua obra ressalta a forma de estar na vida perante a injustiça e a dor, assim como o amor pela terra natal, e pelo Algarve, principal motivação da sua poesia.

 

 Luís Maria de Mello e Horta

Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Elos Clube de Tavira

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 12:14

Junho 05 2010

 

 SEBASTIÃO LEIRIA

 

Versos de Hoje

 

Meus versos são magoados, são tristonhos,

Derrotados na vida que sonhei…

São castelos tombados dos meus sonhos,

Saudades do ideal por que lutei.

 

De peito aberto o fiz, nesses medonhos

Recontros p’la bondade a que aspirei,

Sem me cansar dos trilhos enfadonhos

Da arte e da beleza que criei,

 

Traições, ciladas de almas mal formadas,

Vieram de emboscada às gargalhadas,

Queimando quanto fiz e havia em mim…

 

Criança sonhadora…a alma morta…

Sonhando ainda vai de porta em porta …

Em busca da bondade até ao fim!

 

11.Janeiro.1972

 

_____________________

 

Sebastião Baptista Leiria nasceu em Tavira em 20.01.1918 onde também faleceu (22.Novembro.1972).

Originário de uma família tavirense de musicólogos, fez carreira profissional nos Tribunais, como escrivão de Direito. Foi grande amigo da sua terra, que cantou de forma inigualável. Foi músico, poeta, pintor, jornalista e destacou-se no teatro como autor e encenador. Cronista da Imprensa Regional, onde também ficaram publicados muitos dos seus versos.

Ensinou música. Dirigiu o Orfeão de Tavira, Banda de Tavira e Orquestra Típica de Faro, para os quais compôs e orquestrou inúmeras peças. Foi autor (música e letra) de diversas revistas de carácter regional, uma das quais exibida em Lisboa no Teatro Maria Vitória (anos 50) com assinalável êxito.

A poesia, uma das importantes facetas da sua rara sensibilidade de artista, está reunida na volumosa obra “Versos”, postumamente publicada. Tem uma rua em Tavira com o seu nome e uma placa de homenagem descerrada junto ao lago do Coreto do Jardim principal da cidade, na Rua José Pires Padinha. Outros livros publicados: “Espaço de Tavira” (em co-autoria) e “Quando o Algarve Canta e Ri”.

Nota – A composição aqui assinalada “Versos de hoje” é uma das suas últimas poesias, elaborada quando Sebastião Leiria já se encontrava bastante doente e sem grande esperança de recuperação.

 

 Luís Horta

Presidente da Mesa da Assembleia Geral

do Elos Clube de Tavira

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 09:25

Maio 25 2010

 

DELMAR ROSADO

 

Mar…O mesmo mar…

 

Mar…

O mesmo mar…

Que te banha por aí,

No areal de Monte Gordo…

nas Quatro Águas…

ou, na Ponta da Ilha, em Luanda…

É o meu,

 

Esse mar…

O mesmo mar…

Me banha por aqui,

nos recifes do Recife…

nas pedras de Xareu…

ou nas areias de Boa Viagem!!!

É o teu.

 

Serão…

as ondas de teu mergulho…

que me afagam por aqui?

Ou serão…

As do meu nadar… Q

ue te beijam por ai?

Mar… o

 mesmo mar que nos separa, nos beija…

nos deseja…

Nos une!

 

In “Não nasci em Pernambuco..mas sou Recifense”/2004

 

 ____________________________________

 

Delmar dos Santos Matias Rosado, nasceu em Tavira em 1936, onde fez o curso liceal. Depois do serviço militar e enquanto agente policial prestou serviço em várias localidades de Portugal e mais tarde em Luanda, onde, em funções de maior responsabilidade, se destacou pelo amor pátrio e o apego ao seu dever e às suas responsabilidades.

 

Em 1974 partiu para o Brasil e, desde então, vive no Recife, região que adora e onde, profissionalmente, trabalhou como gestor de obra na área da construção civil, de que está aposentado. Mas mantém-se activo nas letras e no convívio.

 

É poeta desde sempre. Cedo começou a publicar os seus versos no “Notícias do Algarve” e hoje, no Brasil, tem imensos trabalhos inseridos em “Palavra descalça” RS – Brasil, Valores Literários do Brasil, Antologia dos Poetas e Escritores Brasileiros. Medalha Almeida Victor de Incentivo à poesia.

 

Tanto o poema aqui transcrito, como todo o seu livro “Não nasci em Pernambuco…” exalam o perfume do seu duplo e simultâneo amor por Portugal e pelo Brasil.

 

 Luís Horta

Presidente da Mesa da Assembleia Geral do

Elos Clube de Tavira

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 19:30

Maio 12 2010

 

 João de Deus

 

 A uns olhos azuis

 

Cai a folha da rosa pudibunda,

Cai a rosa da face virginal,

Cai das nuvens a águia moribunda,

Cai o sol na montanha ocidental.

 

Cai a onda na praia, cai do sono

O poeta na luz; e cai das mãos

Dos déspotas o ceptro, eles do trono,

Como a seus pés caíram seus irmãos!

 

Cai dos lábios o riso; cai dos olhos

A lágrima também, que da alma sai;

Cai a rocha no mar, cai nos abrolhos

A flor de lis; de louro a folha cai.

 

Cai do céu a centelha incendiária,

A nuvem cai se um sopro Deus lhe dá,

Cai ante o dia a noite solitária

Como o falso Dagon ante Jeová.

 

Cai tudo, flor! cai tudo; eu só não caio:

Mais do que um rei, que o sol, igual a Deus,

Cair, mulher! só posso à luz d’um raio

Se ele cair do céu dos olhos teus!

 

(In: “Flores do Campo”- 1876)

 

__________________________________________

 

João de Deus de Nogueira Ramos, (08.Março.1830/11.Janeiro.1896). Formou-se em Direito e exerceu advocacia, da qual desistiu. Político não por muito tempo. Jornalista. Mas, sem desprezar a prosa, essencialmente poeta. Publicou “Flores do Campo” e “Folhas Soltas”, mais tarde reunidas, com outros poemas, em “Campo de Flores”. Publicou ainda o “Dicionário Prosódico de Portugal e Brasil(1870), além de inúmeros poemas dispersos, textos e traduções de autores franceses. A obra que no entanto lhe deu maior notoriedade acabou por ser a sua “Cartilha Maternal”, a iniciação à leitura que concebeu, num método que se revelou eficaz e com o qual se propunha acabar com o analfabetismo. A sua consagração veio a acontecer em 1895. Faleceu um ano depois. O corpo foi depositado no Panteão Nacional, numa homenagem em que participaram milhares de portugueses agradecidos pelo alcance e oportunidade da sua obra como pedagogo.

 

 Luís Horta

Presidente da Mesa da Assembleia Geral do

Elos Clube de Tavira

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 17:15

Maio 02 2010

Nídia Horta Antunes

 

Ser Mãe

 

Senhor, que me fizeste Mãe,

eu Te agradeço reconhecida!...

Porque ser mãe é no Mundo

a melhor coisa da vida…

 

Eu sei apenas

que as penas

que os filhos dão,

são penas,

de cores esfumadas,

que não queremos aceitar…

 

Cada um, dá o que tem…

porque mais…não sabe dar…

 

(in: “Alternâncias”/1996)

____________________________________________________________

 

Nídia Horta Antunes nasceu em 1929, em Vila Real de Santo António. Foi professora durante 36 anos, num percurso que, além de Portugal Continental, incluiu Moçambique e Cabo Verde. Está aposentada do Ensino mas mantém a chama da poesia, em permanente e activa participação. Tem quatro livros publicados.

 

 Luís Horta

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 00:46

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