
Aqui d’el Rei!!!
Neste prolongado inverno que nos tem assolado, uma das preferências que tenho por programas televisivos é o “Quem quer ser milionário” da RTP/1. Logo ali, perto dos noticiários da noite – e tão difíceis eles andam de digerir – que é conveniente fazer desde logo a descompressão de tanto de mau que vamos vendo e ouvindo.
Embora repetitivo e com um apresentador – J. C. Malato – que abusa da “chalaça”, visionar este programa deixa-nos em paz, em definitiva paz, com aqueles nossos professores, exigentes e cumpridores que só nos levavam a exame se soubéssemos tudo o que dizia respeito aos programas.
Não falando nas matemáticas – sempre a mesma dificuldade congénita para a maioria discente – tínhamos a certeza de que o curso liceal que fazíamos, nos dava, em sete anos de sacrifício, uma capacidade e um conhecimento abrangente quanto necessário. Era a cultura geral que nos levava, nos voos seguintes, a outras capacidades, para as especializações que cada um quereria, ou poderia, seguir.
A disciplina de Português era bem tratada. Todas as outras, idem, idem.
E em História, da Antiguidade clássica aos nossos dias, passando pela caminhada de séculos deste cantinho luso e dos países que dele derivaram, tudo era apreendido num conhecimento mínimo do que era a nossa identidade e os seus episódios referenciais que estavam em causa.
Os prezados leitores devem ter, tal como eu, reparado numa concorrente, senhora de adequada (?) e actualizada licenciatura que escorregou perante a seguinte pergunta:
P- Em que ano foi assassinado o Rei de Portugal Carlos I ?
Verificaram decerto que a resposta, vacilante e completamente ao acaso, incidiu sobre 1142, demonstrando o desprezo que a nível do Ensino, foi votado, de há uma trintena de anos a esta parte, à História de Portugal.
Como estamos a falar de tempos passados, apeteceu-me gritar, como então se faria, em jeito de pedido de socorro:
- Aqui d’el Rei que estão a matar a História de Portugal!
Como já não há “el-Rei”, ninguém me ouvirá. Mas gritei e grito.
E neste desabafo, fico no mínimo, em paz com a minha consciência.
Luís de Mello e Horta