(*)
Sentado no banco cinzento
Entre as alamedas sombreadas do parque.
Ali sentado só, àquela hora da tardinha,
Ele e o tempo. O passado certamente,
Que o futuro causa arrepios de inquietação.
Pois se tem o ar de ser já tão curto,
O futuro. Sós, ele e o passado,
Os dois ali sentados no banco de cimento.
Há pássaros chilreando no arvoredo,
Certamente. E, nas sombras mais densas
E frescas, namorados que se beijam
E se acariciam febrilmente. E crianças
Rolando na relva e rindo tontamente.
Em redor há todo o mundo e a vida.
Ali está ele, ele e o passado,
Sentados os dois no banco de frio cimento.
Ele a sombra e a névoa do olhar.
Ele, a bronquite e o latejar cansado
Das artérias. Em volta os beijos húmidos,
As frescas gargalhadas, tintas de Outono
Próximo na folhagem e o tempo.
O tempo que cada qual, a seu modo,
Vai aproveitando.
Rui Knopfli
(1932-1997)
Nasceu em Inhambane, Moçambique. Poeta. Jornalista. A sua estreia deu-se com o livro O País dos Outros (1959). Lançou, com João Pedro Grabato Dias, os cadernos de poesia Caliban (1971-72), trabalhou como adido de imprensa, na delegação portuguesa à Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque (1974) onde participou dos trabalhos da Comissão de Descolonização. Publicou Memória Consentida (1982) e em 1984 recebeu o prêmio de poesia do PEN Clube.
in http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/mocambique/rui_kinopfli.html