O pai contava histórias
E nelas o mundo era uma fábula
Deus era perfeito, a natureza
Uma orquestra que tudo nos dava
E o pai músico floreava
Seu acordeão de estrelas
Entre prosas, hinos, platéia
E muito bolinho de chuva
O pai contava histórias
E nelas tudo era perfeito
A vida, os finais todos gabolas
Contentezas e prazeiranças
Histórias pros guris dormir
E sonharem outros mundos
Muito além da miséria
Da sopa de fubá com couve rasgada
Um dia o pai foi-se embora
Florear prosa e instrumento pra Deus
Fiquei eu um guri desconsolado
Perguntando que criador era aquele
Que nos dava a vida e tirava
Deixando os bacuris órfãos
Do pai, da vida, de Deus
Numa natureza humana ruim
Hoje, eu poeta crescido
Escrevo poemas, conto histórias
Mas não ouso enganar ninguém
Dou testemunho de minha dor
Em prosa e cantorias que retratam
O meu mundo, e agonizo
Pois no fundo todo contador
De histórias, é um mentiroso
Silas Corrêa Leite
Santa Itararé das Artes, São Paulo – Brasil
Elos Clube de Itararé