I
Não tenho as musas dos poetas
Que cantaram a marinhagem
Dos portugueses de antanho.
Gedeão, Camões e Pessoa,
Que nos falaram da coragem,
E dos Homens cujo tamanho
Deu glórias a Portugal.
E que o Verso solene entoa
As grandes alcançadas metas.
II
Com tal passado armilar
Símbolo da nossa Nação,
De Pitágoras em Timeu,
Não vislumbro, também, o mito.
Veneno na ponta das setas
Que nos atingem impiedosas
Dito qu'é dado por não dito
De inverdades vergonhosas.
III
E navegante que sou eu,
Sem musas como as de Camões,
E por passagens isotéricas
Trago mensagens de poemas;
Poetas como Gedeão,
Como Pessoa; o Fernando.
Sou lusitano coração:
Um descobridor das américas,
Um descobridor de nações.
IV
Mas as minhas nações são d'almas
Que como eu buscam um País
No mito da continuidade
Estudada dos simples factos,
Cantados em livros de História.
No príncipio do mito, o Homem,
No fim dos livros a Memória
Das verdades que se consomem.
V
D'Abril nasceu Nação feliz
Bem assente em solenes pactos,
Nem sempre de palavras calmas.
Da perene Revolução
Nasceu uma Democracia,
Enganadora ilusão,
Duma verdade tão vazia
Como um corpo sem coração.
VI
E aqueles qu'assim sem jeito;
Mal, nos conduzem pró abismo,
Serão julgados p'los vindouros,
Por crimes contra o património:
O moral e o económico.
Se agora recolhem louros,
Com um apurado cinismo,
Serão julgados p'lo Demónio.
VII
E esta nação destroçada,
De pobres e de indigentes,
Falha de valores morais,
D'educação e disciplina,
Reerguer-se-á da neblina,
Numa geração deste mundo
De patriotas diferentes,
Com sentimentos nacionais.
Ah! Pátria recuperada...
Dest'assaz vil sono profundo!