OS PINOS
(*) de Eduardo Pondal(1835-1917)
Que dim os rumorosos
Na costa verdecente,
Ao raio transparente
Do prácido luar?
Que dim as altas copas
D'escuro arume harpado
C'o seu bem compassado
Monótono fungar?
Do teu verdor cinguido
E de benignos astros,
Confim dos verdes castros
E valeroso chão,
Não dês a esquecimento
Da injúria o rude rancor:
Desperta do teu sono,
Fogar de Breogão.
Os bons e generosos
A nossa voz entendem,
E com arroubo atendem
O nosso rouco som,
Mas só os ignorantes
E féridos e duros,
Imbecis e escuros
Não os entendem, não.
Os tempos são chegados
Dos bardos das idades,
Qu'as vossas vacuidades
Cumprido fim terão;
Pois, donde quer, gigante,
A nossa voz pregoa
A redenção da boa
Nação de Breogão.
http://www.youtube.com/watch?v=H8OuYDoRXb8
Notas: Esta é a letra do hino galego, cuja grafia antiquada (?) retoquei ligeiramente, para mais facilmente se confundir com a portuguesa. Não alterei vocábulos que não existam no Português corrente de Portugal. Destes, temos: "arume" = caruma, "harpado" = que parece uma harpa; "cinguido" = cingido, "encono" = medo (?), "fogar" = fogo, lar (em italiano: focolare), "Breogão" = nome dum mítico caudilho celta galego, "féridos" = feros. O galego em vez de "mas" (conj. adversativa) diz "mais", o que está etimologicamente correcto, pois tanto "mas" como "mais" provêm do latim "magis"
O poema de Pondal tem 10 estrofes, das quais só são cantadas no hino apenas as quatro primeiras. Por curiosidade, copio mais a 6ª e a 10ª:
À nobre Lusitânia
Os braços tende amigos,
Aos eidos bem antigos
Com um pungente afã;
E cumpre as vacuidades
Dos teus soantes pinos,
Duns mágicos destinos,
Oh, grei de Breogã!
Galegos sede fortes,
Prontos a grandes feitos;
Aparelhade os peitos
A glorioso afã;
Filhos dos nobres celtas,
Fortes e peregrinos,
Lutade pelos destinos
Dos eidos de Breogã.
Nota: "Eido" = aido = terreno, território, terra, quintal
Joaquim Reis