XI JOGOS FLORAIS DO ELOS CLUBE DE TAVIRA
Modalidade – PROSA
Classificação – 1º. PRÉMIO
Autor – JOÃO BAPTISTA COELHO, de São Domingos de Rana
Título – RAIZ, TRONCO E FLOR DA LÍNGUA MÃE
(*)
De entre uma plêiade muito vasta de gente que devotou parte considerável da sua vida à divulgação da Língua Portuguesa no Mundo e à dilatação do conhecimento da nossa cultura e do nosso património – desde Luís de Camões a António Sérgio, de Vasco da Gama e de outros nautas portugueses a Agostinho da Silva, de João de Deus a Vitorino Nemésio, ou de Fernando Pessoa a Amália Rodrigues e aos nomes incógnitos dos leitores de português nas universidades estrangeiras – difícil se tornou escolher um nome qualquer para este trabalho. Quase que ao acaso, optámos por alguém nascido em Lisboa nos primórdios do século XVII.
Embora tivesse largado o chão natal muito cedo, com pouco mais de sete anos de idade, rumo ao Brasil, acompanhando seus pais que para lá emigraram, ali começou os seus estudos e aos quinze ingressava, por vocação religiosa inabalável despertada por um sermão que ouvira, no noviciado da Companhia de Jesus.
Vocacionado para o estudo das humanidades, já aos dezassete se atrevia a debruçar-se e comentar textos de Séneca e de Ovídeo e, logo após, dissertar sobre a Bíblia e Acerca da doutrina emanada do “Cântico dos Cânticos”.
Aluno de excepcional craveira na disciplina de filosofia, os seus superiores tiveram que impedi-lo de se votar à evangelização dos pagãos, por lhe reconhecerem asas mais largas para as abrir ao mundo inteiro.
O Padre António Vieira que ascendeu ao sacerdócio com vinte e sete anos de idade, passou, desde então, a leccionar teologia numa sequência natural dos sermões que já então proferia com louvor dos seus mestres que chegaram ao ponto de dizer que nada tinham para lhe ensinar.
Aliava à dimensão dos seus conhecimentos e ao carisma da sua eloquência um talento enorme na oratória que logo às primeiras palavras prendia quem o escutava.
Naturalmente que, deste modo, é fácil adivinhar o quanto o seu nome se projectou para fora do Brasil, levando aos confins do mundo a sua língua-mãe e a sua mística doutrinária.
O nome de Portugal que, já antes, vinha sendo divulgado pelos nautas de Quinhentos, em África e no oriente, mormente nos padrões afixados nos territórios que se iam descobrindo, exibindo as armas da lusa gente, viu-se, pela riqueza da escrita e pela luz das palavras proferidas por aquele sacerdote, ainda mais elevado no conceito universal. Se uns plantavam um monumento de pedra…Vieira semeava palavras no espírito. E foi raiz! E foi tronco! E foi flor da Língua que os portugueses, ainda hoje continuam falando!
O Padre António Vieira, falecido há mais de 340 anos – por toda a obra que deixou, por toda a divulgação que fez da nossa língua, pela força da riqueza da sua palavra ainda viva na nossa História – tal como Camões ou como outros que tais, não morreu. Há gente que tem o dom da imortalidade. Vieira é um deles.