Tristeza
...hoje a tristeza invadiu as duas faixas da minha estrada... como é confuso o mundo!! pois para além de minha estrada não ter faixas, e não ser minha, não tem destino, não tem rumo, não tem nada, e a tristeza aproveita essa minha despropriedade para ocupar ela todos os espaços por onde passam meus olhos hoje... trato de fugir pola luz para fora de mim e lá onde boto o olho lá está ela, como no conto da raposa e o sapo... 'aqui estou' dizia o sapo, sempre conseguia ganhar enganando a raposa que nunca adivinhou que eram dous os sapos contra os que ela corria... Mas a tristeza a mim não me engana, para além de não haver duas, eu não sou a raposa... e sei que ela é uma, ela por vezes é grande, por vezes pequena, por vezes tem razão de ser, por vezes não sabe nem ela porque é que veio de visita... Mas seja como for, ela é uma danada polas janelas, e sempre, seja ela grande ou pequena, ocupa o lugar dos olhos e se pousa logo em tudo que nos olhamos, tingindo com seu tom de... 'falta de cor' tudo que nós vemos, ela é como um nevoeiro, uma brêtema cinzenta, que nasce como da fonte de nossos olhos... a gente de fora não percebe como é que nós vemos tudo enturvado, ora... como podemos nós explicar uma cousa invisível que nos impede ver o mundo como ele realmente é...? ou como realmente os não tristes acham que o mundo é... em verdade, devo confessar que eu hoje não fui visitada pola tristeza, fosse isso e eu não poderia escrever estas linhas, eu hoje estou alegre, estou inexplicavelmente contente... a alegria é também outro mistério, é por isso que posso falar da tristeza e querê-la como ela é, como essa velhinha de bengala que se apega a tudo aquilo que pode para se ir deslocando de um lugar a outro, ela sabe que sozinha não pode, e sob sua preta capa leva oculto um ramo de margaridas, mesmo que eu as não veja, como não vejo a luz que há do lado de lá de toda sombra...
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Concha Rousia