Elos Clube de Tavira

Novembro 30 2010

 

… REVELAM EMOÇÕES NA PRIMEIRA VISITA A ÁFRICA

 

 

Um grupo de quilombolas - descendentes dos escravos que fugiram dos seus donos no Brasil e fundaram refúgios, os quilombos - está pela primeira vez na África para conhecer a terra dos seus ancestrais.

 

 

A viagem, financiada pela ONG portuguesa Instituto Marquês do Valle Flor e pela União Europeia, começou no último dia 17, na Guiné-Bissau, e termina a 2 de Dezembro, em Cabo Verde.

 

A excursão faz parte do projecto "O Percurso dos Quilombos: da África para o Brasil e o Regresso às Origens". O grupo de viajantes é formado por 21 quilombolas brasileiros - todos do Maranhão - e cinco acompanhantes.

 

"O calor com o que nos acolheram deu a impressão de que já nos conhecíamos há milhares de anos, que realmente somos da mesma família", disse a lavradora e quilombola Maria José Palhano, 50 anos, sobre o contacto com os africanos.

 

"Deu um sentimento de pertença, que realmente somos da mesma família e que fomos levados daqui", afirma ela, que é coordenadora da Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão (Aconeruq), ONG brasileira parceira do projecto.

 

De acordo com dados do Conselho Ultramarino, o Maranhão recebeu 31.563 escravos entre os anos de 1774 e 1799, quase metade deles vindos da Guiné-Bissau.

 

Cacheu

Partilha cultural

 

A pesquisadora e coordenadora do projecto no Brasil, Verónica Gomes, diz que o objectivo da viagem é de "descoberta e de partilha cultural", promovendo a protecção, valorização e difusão da cultura quilombola.

 

"A demanda surgiu dos quilombolas brasileiros, que queriam conhecer as suas raízes", afirma. "A memória, a oralidade, a territorialidade são princípios na vida dos quilombolas, e isso estará registado para sempre."

 

Palhano identificou nos rostos, no gosto da comida, na hospitalidade e na "alegria de viver, mesmo em horas difíceis" as similaridades entre africanos e os brasileiros afro-descendentes.

 

A visita, segundo ela, veio reforçar esses laços e essa identidade, assim como mostrar outras influências que ainda não havia notado, como no modo de trabalho.

 

"Nós trabalhamos em mutirão e percebemos que isso vem daqui, pois nas roças por onde passamos, a forma de trabalho é a mesma, as pessoas se ajudam umas às outras", afirma.

 

A visita à Guiné-Bissau começou por Cacheu, no noroeste do país. A cidade preserva o forte e o porto de onde saíram escravos com destino ao Maranhão, via Cabo Verde.

 

Os quilombolas visitaram também diversas tabancas, como são chamadas as comunidades rurais na língua crioula de Guiné-Bissau.

 

Também foram realizadas apresentações culturais, tanto de etnias guineenses quanto dos quilombolas, ao longo da semana em que os brasileiros estiveram no país.

 

Música e culinária

 

Para Álvaro Santos, 50 anos, que dirigiu o espectáculo, o tambor de crioula – dança de origem africana celebrada no Brasil em louvor a São Benedito, padroeiro dos negros no Maranhão - é o traço mais marcante da cultura entre os dois povos.

 

"Até hoje, seja numa comunidade quilombola como numa tabanca guineense, o som do tambor é usado para reunir as pessoas, para celebrar", afirma.

 

Apesar de não ser quilombola, Santos diz ter reafirmado nessa viagem a sua identidade de afro-brasileiro. "O jeito, o modo, a cultura, e as manifestações culturais de modo geral estão em todos nós", diz. "Não precisei nascer no quilombo, mas precisei me aproximar deles para me sentir mais negro".

 

Outra identificação entre Cacheu e Maranhão surgiu pela culinária. O cuxá, prato típico maranhense, tem a sua origem na Guiné-Bissau. No país africano, ele é conhecido como baguitche – excepto pela etnia mandinga, que usa o mesmo nome que no Brasil.

 

"Essa é mais uma prova de que os mandingas estiveram por lá", diz o director-executivo da ONG guineense Acção para o Desenvolvimento (AD), Carlos Schwarz da Silva.

 

Emoção no porto

 

Para a "veterana" do grupo de quilombolas, Nielza Nascimento dos Santos, 69 anos, o momento mais emocionante foi chegar ao porto de Cacheu.

 

"Sempre ouvi falar dos meus antepassados, mas nunca tínhamos tido a oportunidade de chegar até aqui. Agora vamos poder levar a história para a nossa comunidade, para o nosso quilombo", diz. "Chorei bastante quando começaram a contar-me como os escravos eram transportados para o Brasil."

 

Depois da visita dos quilombolas, o governo da Guiné-Bissau anunciou que, a partir do próximo ano, irá realizar, coincidentemente com a Semana da Consciência Negra no Brasil, um festival cultural em Cacheu, onde será criado também um memorial da escravatura.

 

Vários quilombolas relataram o desejo de receber os guineenses no Brasil e de manter contacto. "Queremos também ajudá-los, já que a situação aqui é mais difícil do que no Brasil", afirma Palhano. "Lá, lutamos muito e temos água canalizada, energia, escola. Aqui, ainda falta muita coisa."

 

In http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/11/quilombolos-revelam-emo%C3%A7%C3%B5es-da-primeira-visita-%C3%A0-%C3%A1frica.html

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 09:37

Novembro 29 2010

 Myrica faya.jpg (*)

 

FAIA-DA-TERRA

 

Pela Canada Nova entra um nevoeiro pegajoso e de madorra. Uma barra pesada que esconde o mar e faz da araucária da Quinta Velha um fantasma que tolhe os ânimos.

 

Sancha, a mais velha, acabara de depor as folhas de jarroca na amassaria. Era sexta-feira e a mãe amassava o crescente com a farinha de milho. No forno estalavam a rapa, o eucalipto e o loiro: um fumo hierático de odores inchava pela casa. Lavou depois as folhas de botar pão e veio sentar-se ao pé dos meus socos de milho […] Arrumou as galochas no sobrado, acomodou os pés nas minhas pernas e picou o linho de azul.

 

- Já não és o meu franganito de vintém… Já estás um galo da Madeira que qualquer dia não queres saber mais da Chinchinha!

Afaguei-lhe um piso, um arranhão somenos, abaixo do joelho. Sancha e eu pressentimos a ultrapassagem do mimo no gesto que era, na origem, carinho, mas que se prolongava para além do imaculado de que deveria revestir-se.

 

Assarampantou-nos a voz da Senhora Mercês, reinosa na cozinha, por via da lenha verde que só se babava:

- Isto está mesmo um tempo de abalos de terra! T’arrenego, excomungado! Sancha, Mafalda, Teresa! Ah vocês! Venham cá à reza dos abalos! […]

 

Trás-de-casa havia uma goiabeira, mandarinas, uma fona-de- porca, dálias, bananas-de-água de capacete amarelo, salsa, funcho, duas figueiras, malmequeres, jambes, muita urtiga, groselha, araçaleiros e uma faia-da-terra.

 

Há coisas do arco-da-velha. Aquela faia-da-terra, para Teresa, a mais moça, era a modos que um templo: ficava horas desfiadas, nos galhos empoleirada, rodando nos dedos as bagas amarelas, os cabelos adornados das flores brancas e cheirosas, numa liturgia primaveril e pagã que alentava a vida e animava a terra.

 

E há a música.

 

Pois ele é lá possível que pense Teresa e a faia sem música!… Não albornei no ouvido nenhuma melodia, não. O silêncio marcava-as, ambas e duas. Mas talvez o vento, as folhas que se mexiam, sei lá, os pios do melro-preto ou do tintilhão… […]

 

No dia de toiros da Terra do Pão, manhã cedo, Teresa e mais a mãe foram para a Mafalda que agora carregava uma barriga do tamanho de um balseiro. […] Horas antes do primeiro bombão, contudo, Teresa foi tratando de arranjar assento para o arraial. E estava bem bonito. Poderio de povo de toda a ilha, tourada de fama, coisa rija, […] Há, porém, um carro que quer passar. Apita-me naquela buzina, mas as vozes dos homens abafam-na. Parou em frente do balcão onde está Teresa. […] Lá dentro, um rapaz muito loiro, de cabelo à escovinha que parecia acabado de sair da tenda do Mestre Lêndea, os olhos azuis, um sorriso largo e desassossegado. […] Teresa tinha dado no goto ao americano. Ei-lo que vinha, come back para trás, a pé. Pelo caminho, aprendeu da arte do queres-me querer com os rapazes da ilha […] Até à hora do foguete de aviso, os braços do vendedor estendiam, na ponta do bordão de carreto, os candins, as favas, o milho torrado doce, os pinotes, as pevides, as gamas, os rebuçados de alfenim, os chocolates da Base, que Teresa, embaçada, (envergonhada? vaidosa?) distribuiu por quem lá estava, à laia de bodo. […] E os olhos (ainda os olhos) pretos de Teresa, pretos, pretos, da cor que amora tem, cederam (imolaram-se, escrevo) ao azul estrangeiro e aventuroso. Hoje, um envelope de risquinhas vermelhas e azuis trouxe-me novas do novo mundo. Chegou by air mail e diz-me, por fora, que vem da parte de MRS. TERESA PIEL. Por dentro, dá-me por notícia que lhe nasceu o segundo filho, Michael, que estava para ser Robert, Bob ou Bobby, como lá se diz, mas que bóbi é nome de cão. Que Jorge e Sancha já vão em três tramocinhos e que Mafalda e Carlos, nada de muita atramoçadura, se ficaram pela menina que na ilha brotou. […] Que trabalham que se pingam, que estão todos muito bem e mortos de saudades. E pede-me que, da próxima, lhe mande umas florzinhas de faia. […] Essa menina é Teresa, a autora da carta que ficou dita. Foi para a América, como já sabem. Pois bem: a faia-da-terra secou!

 

Secou sem dar satisfações à chuva, à terra, ao vento, às outras árvores. Dois meses depois da partida do avião da PanAmérica, de um dia para o outro deu em mirrar, em ficar castanha. Nada há a fazer senão pô-la a cozer pão. De outra faia colhi a flor, […]”

 

(“Faia-da-terra”, Nas Escadas do Império. Coimbra, Ficção – Centelha, 1978, pp. 11-12-16-21-22-23-24-26-27).

 

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Vasco Pereira da Costa Vasco Pereira da Costa nasceu em Angra do Heroísmo, no ano de 1948. Professor do ensino secundário durante vários anos, esteve ligado à formação de professores, exercendo funções docentes na Escola Superior de Educação de Coimbra.

Desempenhou funções de director do Departamento de Cultura, Turismo e Espaços Verdes da Câmara Municipal de Coimbra.

Tem proferido conferências sobre temas literários e pedagógicos em Portugal e nos EUA, Venezuela, África do Sul, Senegal, Espanha, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda e Itália.

Integrou o grupo de trabalho "Culture sans frontières" da DG X da União Europeia para o estudo do turismo cultural nas cidades europeias de média dimensão. Em representação da A. P. E. tem integrado diversos júris de prémios literários, designadamente, o Grande Prémio A. P. E. de poesia. Foi representante de Portugal no programa FAULT LINES da True and Reconciliation Comission da República da África do Sul.

Tem trabalhado para a rádio e para a televisão em programas de índole literária e cultural e exercido, nesta área, funções de consultor para programas infantis. Foi director regional da cultura dos Açores (2003-2008) e antes disso foi cônsul honorário de França em Coimbra. Integra o Conselho Directivo da Fundação Luso-americana para o Desenvolvimento (FLAD)

 

(*) http://pt.wikipedia.org/wiki/Myrica_faya

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 20:03

Novembro 28 2010

Afonso de Albuquerque - conquista de Goa, 1510 (*)

 

  

Afonso de Albuquerque forma uma poderosa armada, reunindo vinte e três naus e 1200 homens. Relatos contemporâneos afirmam que pretendia combater a frota mameluca egípcia no Mar Vermelho ou regressar a Ormuz. Contudo, informado de que seria mais fácil encontrá-la em Goa, onde se havia refugiado após a Batalha de Diu, dada a doença do sultão Hidalcão e a guerra entre os sultanatos do Decão, investiu de surpresa na captura de Goa ao sultanato de Bijapur. Cumpriu assim outra missão do reino, que não pretendia ser visto como eterno "hóspede" de Cochim e cobiçava Goa por ser o melhor porto comercial da região.

 

A primeira investida a Goa dera-se entre 4 de Março e 20 de Maio de 1510. Numa primeira ocupação, sentindo-se impossibilitado de segurar a cidade dadas as más condições das suas fortificações, Afonso de Albuqerque recusou um vantajoso acordo de paz e abandonou-a em Agosto.

 

Apenas três meses depois, a 25 de Novembro, Albuquerque reapareceu em Goa com uma frota totalmente renovada e, em menos de um dia, tomou a cidade a Ismail Adil Shah e seus aliados otomanos. Estima-se que 6.000 dos 9.000 defensores muçulmanos da cidade morreram, quer na violenta batalha nas ruas ou afogados enquanto tentavam escapar.

 

Apesar de ataques constantes, Goa tornou-se o centro da presença portuguesa, com a conquista a desencadear o respeito dos reinos vizinhos: o sultão de Guzerate e o samorim de Calecute enviaram embaixadas, oferecendo alianças, concessões e locais para fortificar.

 

Albuquerque iniciou nesse ano em Goa a primeira cunhagem de moeda portuguesa fora do reino, aproveitando a oportunidade para anunciar a conquista territorial.

 

António Marques

(anterior Presidente do

Grupo de Amigos de Olivença)

 

(*) http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bf/Goa_Braun_Hogenberg.jpg&imgrefurl=http://www.alvarovelho.net/index.php%3Foption%3Dcom_content%26view%3Darticle%26id%3D1424:conquista-de-goa-1510%26catid%3D85%26Itemid%3D25&usg=__nReg2knUra2QabDzgYwi22VWmNY=&h=2330&w=7751&sz=1811&hl=pt-pt&start=0&zoom=1&tbnid=nAsEOTaw7lxB3M:&tbnh=54&tbnw=179&prev=/images%3Fq%3DAfonso%252Bde%252BAlbuquerque%252Bconquista%252BGoa%252B1510%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=51&vpy=112&dur=2995&hovh=123&hovw=410&tx=165&ty=73&ei=-1zyTJK_Ec24hAeC_82jCg&oei=-1zyTJK_Ec24hAeC_82jCg&esq=1&page=1&ndsp=22&ved=1t:429,r:0,s:0

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 13:41
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Novembro 27 2010

 ELMO DE D. SEBASTIÃO

 

É dia 24/11/2010, são 11 horas.

 

Começa um leilão de obras de arte em Londres. Entre elas encontra-se um elmo de D. Sebastião. A grave crise mundial fez muitos venderem objectos herdados que nem sabiam bem o que eram. Os leiloeiros estão tão atarefados, que nem tempo têm de estudar devidamente o que lhes passa pelas mãos. Assim surgiu, no mercado internacional, este elmo rapinado pelo Duque de Alba em Lisboa, em 1580. Espero que passe despercebido! Em tempos já consegui adquirir e trazer de volta a Portugal uma boa parte de uma das armaduras de D. Sebastião. Tinha sido classificada como sendo do Duque Emanuel Filiberto de Sabóia (casado com a Infanta D. Beatriz de Portugal), o que aliás está correcto. Não tinham, porém, visto o quadro no Museu das Janelas Verdes que mostra D. Sebastião utilizando esta armadura que lhe foi oferecida pelo Duque de Sabóia, seu primo, que, com mais 26 anos de idade, já não cabia nela e ofereceu-a a D. Sebastião.

 

Mantive-me calado! Não disse a ninguém que o elmo de D. Sebastião iria a leilão em Londres. Também dizer para quê? As nossas “Entidades Oficiais” não iriam mexer um dedo para o recuperar! Apenas acabaria por alertar os museus estrangeiros e os leiloeiros. Estes sabem muito bem que uma peça de armadura atribuível a um Duque importante vale, pelo menos, 10 vezes mais do que a mesma sem essa atribuição. Quando a peça é indiscutivelmente atribuída a um monarca, o valor é 20 vezes superior. Mas quando se trata de D. Sebastião, a peça tem simplesmente de regressar a Portugal. Haja manhã de nevoeiro ou não. Estando o Desejado nele ou não!

 

Se alguém descobrir, vai ser uma desgraça financeira para mim. Encontro-me praticamente sem vintém. Mas, o elmo tem de voltar! A minha conta bancária está vazia. De pouco me ajudaria vender o meu carro. Tem 25 anos e ainda me presta bons serviços. De qualquer maneira, o elmo vai custar o equivalente a muitos carros. Não sei o que fazer. Com lógica não chego lá. Tenho de me deixar guiar pelo subconsciente, e este diz-me: “O ELMO DE D. SEBASTIÃO TEM DE REGRESSAR A PORTUGAL!”

 

Não fui a Londres, uma vez que a minha presença neste leilão faria algumas pessoas pensarem e eventualmente acordarem.

 

Pedi para a leiloeira me telefonar.

 

Em Londres já estão a vender as primeiras peças no leilão. Tenho o catálogo sobre os joelhos, sentado ao lado do telefone. Da nossa televisão só oiço os berros de mais uma greve geral, totalmente inútil, onde políticos e sindicalistas fazem o seu circo perante as câmaras dos média, vermes do sistema. Se houvesse entre eles alguém que realmente estivesse empenhado no bem de Portugal, essa pessoa estaria a esta hora em Londres a fim de trazer o elmo de D. Sebastião de volta. É preciso defender a identidade lusa e esta mantém-se quando se ama Portugal e a sua história, e não com malabarismos vocais e movimentos de massas arrancadas do trabalho.

 

Se eu tiver a sorte de, nem o Musée de l’Armée de Paris, nem a Armeria Real de Turim, nem o museu de Filadélfia – visto todos eles possuírem alguns elementos desta armadura, desejando certamente completá-la –, se darem conta de que este elmo lhes faz muita falta, ainda assim é necessário ultrapassar os comerciantes, sempre à procura de lucro fácil. Aí, tenho a “sorte” do elmo ter um pequeno furo (menor do que uma moeda de 1 cêntimo), o suficiente para muitos não o quererem. Este buraquinho não altera em nada a importância histórica da peça, mas apenas o seu momentâneo valor comercial, enquanto não se tiverem dado conta de que se trata de um elmo de um duque, oferecido a um rei. AO NOSSO REI!

 

Tenho os nervos à flor da pele. O telefone vai tocar dentro de instantes. O que é que vou ter que dar em troca para poder pagar esta factura choruda? Não sei! Depois se verá. O ELMO TEM DE VOLTAR!

 

Não vai haver férias nem presentes de Natal, e mesmo estes cortes não vão ser suficientes. Mas O ELMO TEM DE VOLTAR!

 

O telefone toca. O elmo vai à praça! Dou uma ordem: “COMPRE!”.

 

O martelo do leiloeiro bateu!

 

O ELMO DE D. SEBASTIÃO VAI VOLTAR A PORTUGAL.

 

 Rainer Daehnhardt

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 11:34
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Novembro 26 2010

 (*)

http://www.youtube.com/watch?v=rOEpOKIjgwY

 

 

 (*) http://www.google.pt/imgres?imgurl=https://farm4.static.flickr.com/2271/2120629955_a74f57ac1f_o.jpg&imgrefurl=http://santosdacasa.blogspot.com/2009/01/rodrigo-leo-com-nova-tour.html&usg=__K2qs7pJGPU3nvCR9AlK5rOx8ZJs=&h=335&w=450&sz=111&hl=pt-pt&start=0&zoom=1&tbnid=mE9BYgv7qll5jM:&tbnh=157&tbnw=209&prev=/images%3Fq%3DRodrigo%252BLe%25C3%25A3o%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=560&vpy=123&dur=2230&hovh=194&hovw=260&tx=84&ty=112&ei=ksHvTP_BO4nMhAfSsuWzCg&oei=ksHvTP_BO4nMhAfSsuWzCg&esq=1&page=1&ndsp=12&ved=1t:429,r:2,s:0

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 14:15

Novembro 25 2010

 

Foi no dia 25 de Novembro de 1510 que Afonso de Albuquerque conquistou Goa aos muçulmanos que então a governavam.

 

Faz hoje 500 anos.

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 19:32
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Novembro 25 2010

 Fernando Aires Fernando Aires

 

MEMÓRIAS DA CIDADE CERCADA

 

O TERRAMOTO

 

 

Quem ia por ali acima, a caminho dos matos, a buscar queiroga para o lume e zimbro para o chão dos casebres, tinha o costume de parar um momento naquele lugar, a escutar, em silêncio, o resfolegar da ribeira, e a encomendar-se à santa que a lenda perfumara de ingenuidades e certezas, estabelecendo, de há muito, ter sido ali o lugar de seu nascimento e morte.

 

Antigas tradições faziam o relato daquele caso, sempre contado não exactamente como da última vez, mas sempre inspirado de compaixão e respeito.

 

A última versão dizia que em tempos do grande capitão, morava na Vila uma mulher muito velha, tão velha, que nas seroadas de Inverno, vinha gente de muito longe juntar-se aos vizinhos, para ouvir contar coisas do tempo em que, por aquelas partes, a missa era ainda rezada sobre um tosco altar de pedra, abrigado das chuvas apenas por um telheiro de juncos.

 

A velha habitava, sozinha, a casa mais remota do lugar, baixinha, de porta e janela. Casa de pobre, já se vê. Os montes por ali acima na frescura da hortelã e do trevo. O arvoredo das encostas a mudar de cor aos primeiros frios de Novembro.

 

Por essa data, alpardo, já a velha mulher tinha a levedar, ao calor do borralho, o pão benzido: " São Mamede te levede e São Vicente te acrescente ".

 

Prevenia-se, também, de óleo de peixe para a candeia, de lenha para o lume, e de mel silvestre que guardava em covilhetes de madeira e escondia dos ratos.

 

À medida que o Inverno avançava, as aves do mar voavam juntas para o sul, procurando guarida – os seus grasnidos alarmando de ecos os precipícios da costa.

 

Então a casa, no chão crestado do vento, com as árvores assim nuas, mais alvejava na raiz dos montes, enquanto a velha mulher ia cumprindo a oração da noite, para que o coração se mantivesse límpido durante o sono.

 

Já ia a lua na sétima volta, "não havendo sinais do céu nem da terra, sem fazer bafo de vento que então era levante", como diz o cronista, veio aquele estremeção tamanho, como um soluço de gigante – a casa num tremor, a estalar nas juntas, abalada até aos alicerces. O chão a abrir-se, os montes como cavalos à desfilada, por ali abaixo, semeando de pedras e lodo muitos lugares, deixando tudo raso e deserto, sem mostra de Vila com seus templos, seus solares, suas casas de comércio e casebres de pobre.

 

Toda esta desgraça, acontecida em tão breve espaço, serviu, dali por diante, a clérigos e a moralistas, para demonstrar aos povos a justiça e o poder infinito de Deus.

 

Daquela vez, o contador era homem de respeito, considerado digno de crédito, famoso de uma ponta à outra da Ilha por saber tanger os sentimentos no íntimo das pessoas, com sua eloquência e força de olhar e de gestos. De sorte que os ranchos que se punham a escutar, ouviam perfeitamente estarrecidos, os gritos das gentes em fuga, os gemidos dos moribundos cada vez mais desesperados e o uivo dos cães na partilha dos mortos. Assim se avaliava melhor como o rolar dos montes e o lume no mar tinham enchido de terror e espanto a velha mulher, ali sozinha, perdida: Senhor, misericórdia! Senhor, misericórdia! Minha Nossa Senhora! – a mulher tolhida no meio da casa, as mãos no peito. Tolhida.

 

Mas a casa não caiu. Nem o teto, nem as paredes caíram. Nem o lume brotado do mar chegou até ali. Ao lado do mundo maior, convulsionado até à orla do horizonte, aquela casa menor, situada na raiz do monte, sobrevivera como a luz que toma conta da madrugada.

 

Foi milagre, assegurava o narrador, por a velha mulher ser piedosa e boa e ter dito o nome da Senhora – e o povo comovido, dando graças, sentindo a espessura do mistério e o bater, compassado, das asas dos anjos, na palidez do crepúsculo.

 

E o narrador continuava: Tudo isto durou o espaço de um credo, se tanto. De novo, tudo ficou quieto – embora, para quem estivesse atento, não passasse despercebido o estertor profundo e a respiração cansada da terra revolvida.

 

Então a velha deitou-se. E depois de muito rezar, de muito se persignar, adormeceu – o rosário entalado na mão. O nome da Senhora na boca. Quando acordou, fez o costume: dirigiu-se à porta da cozinha, abriu o postigo e espreitou para fora. Mas estranhou: não havia dia. Nem galo que cantasse. Só silêncio. Escuridão. Foi pela candeia, às apalpadelas. Trouxe-a acesa. Pousou-a. Aconchegou mais o xaile e abriu a janela. Debruçou-se: a mesma escuridão. Não se via nada, coisa nenhuma. A noite lá fora – de breu. Voltou à enxerga. Deitou-se calada, sozinha, a ver quando bulia a manhã. Mas nada bulia. Nem os cães que costumam ladrar às estrelas. Nem os galos. Nada que anunciasse a madrugada. Era cedo, decerto. O sol não nascera ainda. Sabia, de resto, que na Ilha de nevoeiros e prolongadas sombras, às vezes custa a ser dia. Esperou.

 

Houve ocasiões em que o telhado estalou, como que constrangido pelo peso do céu – e a mulher ali calada e sozinha. Tolhida. A fazer por se lembrar de suas culpas mortais. A encomendar-se a Deus. Nisto a candeia estrebuchou, fez um estalido, assim como de folhas secas pisadas. Ainda alteou a chama duas vezes. Por fim, apagou-se, deixando um cheiro forte e acre. O esperar inútil de que se acendesse de novo.

 

Um silêncio enorme (imagine quem puder) pesou ainda mais nas traves da casa que rangeram com um silvo de serpente. Sobre o peito da mulher, foi como se o coveiro assentasse, de vez, a laje da sepultura.

 

Muitos anos passaram sobre a noite em que os montes rolaram, e a terra entrou pelo mar adentro. Um dia vieram os homens àquele lugar. Traziam pás e picaretas. Os matos subiam por ali acima cobertos, de novo, de queiroga e de zimbro. E onde dantes emergia da terra um amontoado pedregoso e monótono, ouvia-se, agora, o arfar de uma ribeira. Os homens, hesitaram um momento, entreolharam-se, perguntaram: Será aqui? O capataz observou atentamente à volta, confirmou a altura do sol e a direcção das nuvens e respondeu: É aqui. Então todos se puseram a arrancar os tamujos e os fetos do chão endurecido. Roçaram as silvas. Cortaram as árvores da grossura de baleias. Depois começaram a abrir a terra. Alargaram, aprofundaram o buraco. Afastaram as pedras e os troncos esburgados como ossadas acumuladas num túmulo. Cavaram mais. E ainda mais. Mais ainda. Veio a tarde. Veio a noite e não paravam de cavar.

 

Noite alta, os alviões deram com uma coisa alvacenta, como um lótus a emergir por entre despojos. Os homens redobraram de esforços, os alviões a encherem a madrugada do ruído dos ferros.

 

Sem uma palavra, o capataz desceu ao fundo do poço e ficou a olhar. Então começou a aparecer uma coisa, inexplicável, vagarosa, por entre o lodo e as rochas, quase irreal, quase assustadora no seu mutismo, parecendo um coral arremessado pelas ondas ao fundo daquele poço. E, sendo já dia claro, romperam a tirar os últimos entulhos. Mas, de súbito, suspenderam o trabalho – os braços caídos, os olhos imóveis.

 

O capataz perguntou: O que é? Os homens não responderam. Começaram a mover-se devagar. Curvaram-se a limpar do bolor o que quer que segregava o hálito das coisas intangíveis. Afirmaram-se melhor e um vento veio das alturas afastar as névoas à flor da terra: inteiro e sozinho, o corpo da velha mulher jazia no desamor de tantos anos passados. Inteiro. Nas mãos, o rosário de repente tão nítido à luz que vinha de cima. A boca ainda no jeito de dizer o nome da Senhora.

 

A notícia correu.

 

Veio o povo com muitos gestos e o seu burburinho cheio de imaginações exaltadas. Veio o padre com seu aparato de opas e turíbulos, a impor as mãos e a fazer funcionar o moinho das orações já gastas que chegam a comprometer a reputação de Deus. Veio o juiz da terra, circunspecto e rigoroso, trazendo consigo os seus subalternos e os pergaminhos do seu ofício – o que levou o povo a afastar-se com respeito.

 

Houve um espaço em que se ouviu o vento nas urzes e o marulhar da ribeira. Depois, estalaram foguetes e soaram instrumentos de música. A multidão agitava-se, empurrava-se como um rebanho impaciente, para ir ver de perto o achado milagroso, de onde se desprendia um intenso perfume a maçãs acabadas de colher.

 

Completamente alheio a tão grande arruído, o corpo da mulher jazia ali – incorrupto. Um brilho persistente no rosário, a boca no jeito de quem quer dizer o nome da Senhora.

 

© Fernando Aires, Memórias da Cidade Cercada, Lisboa, Edições Salamandra, 1995, pp. 37-44.

 

 

FERNANDO AIRES nasceu em Ponta Delgada (Açores) a 18 de Fevereiro de 1928 e ali faleceu a 9 de Novembro 2010. Depois da Escola Primária, frequentou o Liceu Antero de Quental na mesma cidade entre 1940-1947, onde completou o Curso Complementar de Letras. Matriculado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, licenciou-se em Ciências Histórico- Filosóficas. Professor efectivo no Liceu Antero de Quental, cumulativamente orientou estágios pedagógicos durante vários anos e leccionou a cadeira de Psicopedagogia na Escola do Magistério Primário de Ponta Delgada. Com a fundação da Universidade dos Açores em 1974, ingressou nesta instituição. Aposentou-se na situação de assistente-convidado da Universidade dos Açores, cargo que exerceu de 1975 a 1994.

Pertenceu ao grupo que, nos anos 40, fundou o Círculo Cultural Antero de Quental, destinado a introduzir o Modernismo nos Açores, com Eduíno de Jesus, Soares de Albergaria, Eduardo Vasconcelos Moniz, Carlos Wallenstein e outros. Colaborador assíduo da imprensa local e regional, bem como de revistas conhecidas regionalmente como a revista "Atlântica e Nova Renascença".

Fernando Aires revela-se um escritor com um estilo firme e excepcional, com uma escrita elegante que nos cativa e fascina. Este conjunto de características viria a desenvolver-se num género literário onde predomina o memorialismo, que é caracterizado por abarcar relatos autobiográficos, que se manifestam na vertente diarística que o autor inaugura na produção literária açoriana. De 1978 a 1989, fez parte da Direcção do Instituto Cultural de Ponta Delgada. Está representado na Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, onde colaborou desde 1993.

Leitor de clássicos e modernos, viria a publicar um diário em 5 volumes que intitulou de “Era Uma Vez o Tempo” que obteve largo reconhecimento junto dos ilhéus e de alguma crítica especializada em Portugal e nos E.U.A.

Na ficção publicou dois volumes de Contos “Histórias do Entardecer “ (1988) que ganhou o primeiro prémio do Concurso Literário dos Açores/88. Publicou ainda “Memórias da cidade cercada “ (1995) e a novela “A Ilha do nunca mais” (2000) que confirmaram as suas qualidades de prosador.

Fernando Aires, professor, escritor, poeta, ensaísta, cronista em muitos jornais, marcou várias gerações ao leccionar História e Filosofia, incentivando os jovens alunos a irem muito além dos compêndios oficiais.

 

Obras Ensaísticas

• Faria e Maria e Antero (ensaio, Angra do Heroísmo, 1961)

• José do Canto Vivo (separata da revista "Arquipélago", Universidade dos Açores, Ponta Delgada, série "Ciências Humanas", n.º 3, 1981)

• José do Canto - Subsídios para a História Micaelense (1820-1898) (Universidade dos Açores, Ponta Delgada, 1982)

• Afonso Chaves (separata da revista "Açoriana", Ponta Delgada, 1982)

• Alice Moderno - A Mulher e a Obra (separata da revista "Insulana", vol. XLI, 1985)

• Delinquência e Emigração em São Miguel na Primeira Metade do séc. XIX (separata da revista "Insulana", Ponta Delgada, 1988) Contos

• Histórias do Entardecer (Secretaria Regional da Educação e Cultura, col. Gaivota, 1988. Ganhou o Concurso Literário Açores/88)

• Memórias da Cidade Cercada (Lisboa, Edições Salamandra, 1995). Obras Autobiográficas

• Era uma Vez o Tempo

• Diário I, Ponta Delgada, 1988;

• Diário II, Ponta Delgada, 1991;

• Diário III, Lisboa, Edições Salamandra, 1993;

• Diário IV, Lisboa, Edições Salamandra, 1997;

• Diário V, Lisboa, Edições Salamandra, 1999),

• A Ilha de Nunca Mais (ficção, Lisboa, Edições Salamandra, 2000).

 

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 14:56

Novembro 24 2010

  Nuno Júdice

 

  Poema

 

Como se o teu amor tivesse outro nome no teu nome,

Chamo por ti; e o som do que digo é o amor

Que ao teu corpo substitui a doçura de um pronome

- tu, a sílaba única de uma eclosão de flor.

 

Diz-me, então, por que vens ter comigo

No puro despertar da minha solidão?

E que murmúrio lento de uma cantiga de amigo

Nos repete o amor numa insistência de refrão?

 

É como se nada tivesse para te dizer

Quando tu és tudo o que me habita os lábios:

Linguagem breve de gestos sábios

Que os teus olhos me dão para beber.

 

______________________________________

 

Nuno Júdice, Poeta e Ensaísta, nasceu na Mexilhoeira Grande em 1949. Licenciou-se em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa e foi Doutorado pela Universidade Nova, onde é Professor Catedrático, apresentando, em 1989, uma dissertação sobre Literatura Medieval.

Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal e Director do Instituto Camões em Paris, publicou antologias, edições de crítica literária, estudos sobre Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa.

Divulgador da literatura portuguesa do século XX, lançou, em 1993 , Voyage dans un siècle de Littérature Portuguaise. Organizou a Semana Europeia da Poesia, no âmbito da Lisboa '94 - Capital Europeia da Cultura. Poeta e ficcionista, a sua estreia literária deu-se com A Noção de Poema (1972).

Em 1985 receberia o Prémio Pen Clube e o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus, em 1990. Em 1994 a Associação Portuguesa de Escritores, distinguiu-o pela publicação de Meditação sobre Ruínas, finalista do Prémio Europeu de Literatura Aristeion. Assinou ainda obras para teatro.

Foi Director da revista literária Tabacaria, editada pela Casa Fernando Pessoa e Comissário para a área da Literatura da representação portuguesa à 49ª Feira do Livro de Frankfurt.

De 1972 e 2006 publicou mais de meia centena de obras, entre poesia, ensaio e ficção.

Tem obras traduzidas em Espanha, Itália, Venezuela, Inglaterra e França.

 

 Luís de Melo e Horta

Presidente da Mesa da Assembleia Geral do

Elos Clube de Tavira

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 09:03

Novembro 23 2010

 

 

Há tantos burros mandando

Em homens de inteligência,

Que às vezes fico pensando,

Se a burrice não será uma ciência.

 

António Aleixo

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 19:06

Novembro 22 2010

 

 

http://www.youtube.com/watch?v=WdWYIQwbeCI

 

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 08:58
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