Elos Clube de Tavira

Agosto 30 2010

 

 

Se me quiseres conhecer,

Estuda com olhos de bem ver

Esse pedaço de pau preto

Que um desconhecido irmão maconde

De mãos inspiradas

Talhou e trabalhou em terras distantes lá do norte.

 

Ah! Essa sou eu: órbitas vazias

no desespero de possuir

a vida boca rasgada em ferida de angustia,

mãos enormes, espalmadas,

erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça,

corpo tatuado feridas visíveis e invisíveis

pelos duros chicotes da escravatura…

torturada e magnífica altiva e mística,

africa da cabeça aos pés,

– Ah, essa sou eu! Se quiseres compreender-me

Vem debruçar-te sobre a minha alma de africa,

Nos gemidos dos negros no cais

Nos batuques frenéticos do muchopes

Na rebeldia dos machanganas

Na estranha melodia se evolando

Duma canção nativa noite dentro

E nada mais me perguntes,

Se é que me queres conhecer…

Que não sou mais que um búzio de carne

Onde a revolta de africa congelou

Seu grito inchado de esperança.

 

Noémia de Souza / Moçambique 1958

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 10:37
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