Elos Clube de Tavira

Agosto 10 2010

 

 

Prezados Companheiros:

 

“Algo está podre no reino da Dinamarca”, proclamava Hamlet nesse drama de Shakespeare.

 

Eis o que muitos de nós também somos levados a pensar a propósito da crise por que passamos.

 

E por que razão invoco eu a Dinamarca? Porque no tempo do nosso rei D. Afonso V (1432 – 1481) Tavira teve algo de muito importante a ver com esse reino nórdico: foi João Vaz Corte Real que comandou a parte portuguesa da expedição conjunta luso-dinamarquesa encarregue pelos dois reis – o nosso e seu primo Cristiano I da Dinamarca – de desbravar a rota nórdica que se admitia poder ser um caminho útil para alcançar o Oriente e, mais concretamente, a Índia e as Molucas, as famosas ilhas das especiarias.

 

Mas invoco também a Dinamarca a propósito do que lhe aconteceu no início do século XIX – ao tempo de Frederico VI – aderindo ao Bloqueio Continental decretado por Napoleão donde resultou a sua capital ser bombardeada duas vezes pela esquadra de Nelson e vendo a sua própria Marinha de Guerra apreendida pelos britânicos. Mais: na sequência do Congresso de Viena que pôs termo à aventura napoleónica, a Dinamarca perdeu definitivamente a Noruega e um condado na Pomerânia que reverteu para a Alemanha assim entrando a Nação dinamarquesa numa crise profundíssima.

 

Praticamente reduzida às duas ilhas do Báltico e à estreita península da Jutlândia, foi o momento de Frederico VI se revelar culto e inteligente. Cultura e inteligência que lhe lembraram a célebre expressão de Cláudio: "a culpa da nossa desgraça não está nos astros mas em nós mesmos". E dessa tomada de consciência construiu um princípio que ficou famoso: "Somos fracos e pobres mas nada nos obriga a também sermos estúpidos".

 

Eis como, não atribuindo a terceiros e muito menos a fatalidades astrais as culpas pela tragédia a que fora conduzida a sua Nação, reconheceu que o mal estava na incultura geral da própria sociedade dinamarquesa. Foi então (e estava-se em 1815) que introduziu a escolaridade obrigatória fazendo aquilo que os autocratas mais receiam: educar o povo.

 

A formidável motivação social resultante dessa medida de política foi suficiente para erguer os espíritos abatidos passando do desespero a uma notável dinâmica de aculturação sistemática. Foram 50 anos durante os quais o povo dinamarquês se entregou afanosamente ao estudo de tal modo que no final do séc. XIX já tinham passado de estudantes a professores. Basta citar o escritor Hans Christian Anderson, o filósofo Kierkegaard e, já no séc. XX, o físico Niels Bohr para reconhecermos o elevado nível a que essa pequena Nação se alcandorou.

 

Foi no âmbito desse ressurgimento que pacificamente passou do absolutismo ao parlamentarismo reatando os laços diplomáticos que se tinham quebrado com a Grã-Bretanha e respectivos aliados.

 

E antes de descobrir petróleo no Mar do Norte, já a Dinamarca era exemplo de progresso económico com base numa Agricultura moderna que lhe permitiu um nível invejável de vida para a sua laboriosa população.

 

Actualmente, a Dinamarca lidera na União Europeia com o mais elevado rendimento per capita bem como no índice de distribuição dessa mesma riqueza.

 

Dá para nos questionarmos, Prezados Companheiros, de quem será a culpa da crise por que passamos.

 

 

Não temos tempo para lamúrias e aqui fica o desafio: o Elos Clube de Tavira quer fazer parte da solução.

 

Tavira, 8 de Agosto de 2010

 

 Henrique Salles da Fonseca

 

BIBLIOGRAFIA:

“Afinal de quem é a culpa”, Luís Soares de Oliveira – “A bem da Nação”, 26JUL10 http://abemdanacao.blogs.sapo.pt/493627.html

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 10:42
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