2- DONDE VIEMOS …
Desde que os homens vivem em sociedade – ou seja, desde sempre – que a regulação moral da conduta se mostrou necessária ao bem-estar colectivo. E se certas normas só se impuseram pela ameaça da ira divina, outras houve que nasceram da vontade profana de líderes políticos. Assim nasceu uma perene miscigenação entre os poderes temporal e religioso. Assim foi nas mais antigas civilizações (egípcia, suméria, chinesa, grega), assim foi até há bem pouco tempo com os Luíses franceses a justificarem o seu poder na origem divina, com a Inquisição que em Portugal só foi extinta em 1821. E apesar da Revolução Francesa, da laicização progressiva da sociedade, da revolução bolchevista e respectivo processo de ateização sistemática, assim é ainda hoje na Arábia Saudita e no Irão por onde não passaram essas vagas revolucionárias e onde vigoram verdadeiras hierocracias. Mais: hierocracias unicitárias, punitivas e vingativas. Do nosso lado da Civilização temos a teocracia vaticana que, limitada geograficamente a uma ínfima parcela da laica Roma, define o dogma da Fé e orienta a moral de uma parte importante da Humanidade já sem a Inquisição e seu mais temido instrumento, a pira.
Ao percorrermos a História deparamos com uma pleiade de pensadores, todos circunstanciais, sendo que nem sempre os eternos e universais assumiram em vida os papéis mais relevantes. Quantas e quantas vezes o sofisma se fez passar por dogma, a falácia vingou como verdade absoluta, os facínoras foram louvados como heróis. Nem sempre foi rápido o reconhecimento do mérito e com frequência o foi apenas a título póstumo. Contrariamente aos Prémios Nobel, é com muita cautela e demorada ponderação que se proclamam os Santos da Igreja Católica e num nível bem mais prosaico, é com a apreciação de toda a vida das personagens que se cria a toponímia da cidade de Lisboa.
Seria fastidioso senão mesmo impossível resumir aqui o percurso da Humanidade pensadora pelo que bastará referir que foi por violentas convulsões, idealismos mais ou menos platónicos e por mares duramente navegados que CHEGÀMOS À FILOSOFIA DO PODER.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca