Para além do Cabo de São Vicente
E além das escarpas dos penedos...
Mar! Mar à vista! Mar! Mar! Mar à vista!
Ah, aqui onde a Terra beija o Mar,
Viram-se velas, destino ardente,
Partindo à gloriosa conquista,
Assumidas as diferenças dos medos
Dum Povo feito para velejar,
Que escolheu terra e continente.
E lá muito além onde há ninguém,
Por detrás de ruídos marulhentos,
Pátria, muitos quiseram amar-te.
Mátria de Natália Correia,
Poetisa dos difíceis momentos
Duma bem esplendorosa Assembleia.
Do velejar fez-se a nossa arte
E dos políticos a verborreia.
Mar e Destino ficaram n'areia.
Assim vamos, Povo indiferente,
Velejando numa nau catrineta,
À espera do dia do Senhor,
Com fiéis orações a muitos Santos.
Ouvidas as boas catilinárias
Acabadas em ruidosos prantos
Que, infelizmente, Nos superam,
Das mui incompetentes alimárias
Que, impunemente, nos governam.
E hei-de quedar-me por esta glosa,
Que canta a Terra e a Natureza.
Abandonei, de vez, a grande prosa;
Suspendi-me, pois, com grande arrebate,
Na Poesia e na incerteza,
Dos versos talmúdicos de combate.
Ah! eu exijo o meu País de volta.
Quero árvores, mas desejo o Mar!
Quero dar largas à minha revolta!
Árvores da Natureza Eterna
Com as folhas caidas pelo chão,
Eu entrego-me à sua sombra
Enquanto vos faço esta canção.
Com a brisa suave a'judar,
Lembro-me da vida militar
E do passado que não ensombra
Os sons duma típica caserna.
Toca a sineta! Toc'a sineta!
Eu quero Portugal a navegar!
Luís Santiago