A uns olhos azuis
Cai a folha da rosa pudibunda,
Cai a rosa da face virginal,
Cai das nuvens a águia moribunda,
Cai o sol na montanha ocidental.
Cai a onda na praia, cai do sono
O poeta na luz; e cai das mãos
Dos déspotas o ceptro, eles do trono,
Como a seus pés caíram seus irmãos!
Cai dos lábios o riso; cai dos olhos
A lágrima também, que da alma sai;
Cai a rocha no mar, cai nos abrolhos
A flor de lis; de louro a folha cai.
Cai do céu a centelha incendiária,
A nuvem cai se um sopro Deus lhe dá,
Cai ante o dia a noite solitária
Como o falso Dagon ante Jeová.
Cai tudo, flor! cai tudo; eu só não caio:
Mais do que um rei, que o sol, igual a Deus,
Cair, mulher! só posso à luz d’um raio
Se ele cair do céu dos olhos teus!
(In: “Flores do Campo”- 1876)
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João de Deus de Nogueira Ramos, (08.Março.1830/11.Janeiro.1896). Formou-se em Direito e exerceu advocacia, da qual desistiu. Político não por muito tempo. Jornalista. Mas, sem desprezar a prosa, essencialmente poeta. Publicou “Flores do Campo” e “Folhas Soltas”, mais tarde reunidas, com outros poemas, em “Campo de Flores”. Publicou ainda o “Dicionário Prosódico de Portugal e Brasil(1870), além de inúmeros poemas dispersos, textos e traduções de autores franceses. A obra que no entanto lhe deu maior notoriedade acabou por ser a sua “Cartilha Maternal”, a iniciação à leitura que concebeu, num método que se revelou eficaz e com o qual se propunha acabar com o analfabetismo. A sua consagração veio a acontecer em 1895. Faleceu um ano depois. O corpo foi depositado no Panteão Nacional, numa homenagem em que participaram milhares de portugueses agradecidos pelo alcance e oportunidade da sua obra como pedagogo.
Presidente da Mesa da Assembleia Geral do
Elos Clube de Tavira