Ai de mim! Abateu-se sobre Sefarad a maldição do Céu
Grande é o luto que desabou sobre o Ocidente.
Eis por que as minhas mãos caíram e de meus olhos, de meus olhos brota água
Como fontes choram os meus olhos pela cidade de Ulissana
Um dia ficou como viúva.
Houve assassinatos e gente esfomeada a gemer por todas as partes
A casa das orações e louvores foi vilmente profanada
E gente estranha, hoste feroz, rasgou de Deus a lei verdadeira.
Eis por que choro, abato as mãos e a minha boca brada lamentações,
Pois não há ninguém tão aflito que, como eu, grite:
Quem me dera que a minha cabeça se desfizesse em água…
25 de Outubro de 1147, dia da conquista de Lisboa aos mouros, dia em que alguns Cruzados do norte da Europa não respeitaram a disciplina combinada pelos seus Chefes com D. Afonso Henriques, dia em que correu sangue pelas ruas da cidade; o saque, a destruição, a volúpia da conquista.
Nesse dia foi assassinado o Bispo moçárabe de Lisboa e arrasada a sinagoga. O Bispo não teve tempo para chorar a destruição da sua igreja; o rabi Abraão Ibn Ezra ainda teve tempo para chorar a desgraça que sobre a cidade se abateu.
Sim, nesse dia cessava a governação almorávida de Lisboa, a que permitia tanto o culto judaico como o cristão moçárabe de rito visigótico. Uma sociedade tolerante que em breve seria destronada de todo o Gharb pelos radicais Almóadas sob a acusação de fraqueza e corrupção.
Mas Averróis cresceu e floresceu com os Almorávidas e foi com eles que passou à História…
Abril de 2010
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA:
Mattoso, José – D. Afonso Henriques, pág. 179 – Círculo de Leitores, Ed. 2006