Elos Clube de Tavira

Março 30 2010

AUTOBIOGRAFIA

 

 

(Lourenço Marques, 28 de Maio de 1922 - Maputo, 6 de Fevereiro de 2003)

 

«Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto[1]. Isto por parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai, fiquei José.

 

Aonde? Na Av. Do Zihlahla, entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.

 

Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato...

 

A seguir, fui nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros.

 

Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: seu irmão.

 

E a partir de cada nascimento, eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terrra natal em termos de Pátria e de opção.

 

Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique. A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe preta.

 

Nasci ainda outra vez no jornal O Brado Africano. No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noémia de Sousa.

 

Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso. Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria.

 

Por parte de minha mãe, só resignação. Uma luta incessante comigo próprio. Autodidacta.

 

Minha grande aventura: ser pai. Depois, eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.

 

Escrever poemas, o meu refúgio, o meu País também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse País, muitas vezes, altas horas a noite.»

 

 

(1) - Domingo, em língua ronga

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 09:03

Prezado CE Salles Fonseca:
Foi extremamente prazeroso tomar conhecimento de épocas da vida deste poeta de espírito empreendedor e vitorioso. A linguagem clara e o pensamento encadeando ações sobrepostas, favorecem o acompanhar de sua alma, de sua vida, de tal forma límpida, que consegue inserir o leitor dentro de seu texto, no devido contexto.
Obrigada! Já iniciei este dia de forma mais encorpada em conhecimento literário, cultural, humano... Tenho convicção de que o aprendizado se faz, a cada dia, vencendo degraus, escalando o conhecimento universal e se apresentando como "gente", à medida que os dias se sucedem.
Continue, Caro CE Salles Fonseca, nesta linha de contribuir com os elistas, difundindo a vida, o espírito lusófono.
Saudações elistas.
CE Maria Inês Boteljo-PRESINT
Maria Inês Botelho a 30 de Março de 2010 às 10:52

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