Elos Clube de Tavira

Dezembro 19 2010

 

 Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes

 

 

« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice.»

(Émile Zola)

 

 

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

 

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

 

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

 

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.

 

No início, foi o Maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...

 

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidémica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários sectores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

 

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...

 

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.

 

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

 

Ao assassino, correctamente, deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

 

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

 

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

 

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correcto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

 

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranquilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

 

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, frequentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

 

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

 

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

 

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

 

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

 

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

 

EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito;

 

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

 

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição;

 

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os directores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

 

EU ACUSO os directores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é directamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores.

 

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia. Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

 

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”

 

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adoptar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.

 

Igor Pantuzza Wildmann

 

Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.

In http://brasileirosparaomundo.blogspot.com/2010/12/jacuse-eu-acuso.html

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 11:11

Maio 23 2010

 

Aumento da violência nas escolas reflecte

crise de autoridade familiar

 

 

Especialistas em educação reunidos na cidade espanhola de Valência defenderam que o aumento da violência escolar se deve a uma crise de autoridade familiar pelo facto de os pais renunciarem a impor disciplina aos filhos remetendo essa responsabilidade para os professores.

 

Os participantes no encontro Família e Escola: um espaço de convivência, dedicado a analisar a importância da família como agente educativo, consideram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os menores recaia nas escolas.

 

As crianças não encontram em casa a figura de autoridade, que é um elemento fundamental para o seu crescimento, disse o filósofo Fernando Savater.

 

As famílias não são o que eram antes e hoje o único meio com que muitas crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa, sublinhou.

 

Para Savater, os pais continuam a não querer assumir qualquer autoridade, preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos seja alegre e sem conflitos e empurrando o papel de disciplinador quase exclusivamente para os professores.

 

No entanto, quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador, são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os filhos que tentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os, acusa.

 

O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente, não tem razão para depois se ir queixar, sublinha.

 

Há professores que são vítimas nas mãos dos alunos.

 

Savater acusa igualmente as famílias de pensarem que ao pagar uma escola deixa de ser necessário impor responsabilidade, alertando para a situação de muitos professores que estão psicologicamente esgotados e que se transformam em autênticas vítimas nas mãos dos alunos.

 

Mais afirma: a liberdade exige uma componente de disciplina que obriga a que os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias e da sociedade.

 

A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara, afirma, recomendando aos pais que transmitam aos filhos a importância da escola e a importância que é receber uma educação, uma oportunidade e um privilégio.

 

Em algum momento das suas vidas, as crianças vão confrontar-se com a disciplina, frisa Fernando Savater.

 

O filósofo explicou que é essencial perceber que as crianças não são hoje mais violentas ou mais indisciplinadas do que antes; o problema é que têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos.

 

Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para os passarem a ver como uma fonte de incómodo e isso leva-os à rebeldia, afirmou.

 

Daí que, mais do que reformas dos códigos legislativos ou das normas em vigor, é essencial envolver toda a sociedade pois mais vale dar uma palmada, no momento certo do que permitir as situações que depois se criam.

 

Como alternativa à palmada, o filósofo recomenda a supressão de privilégios e o alargamento dos deveres.

  Fernando Savater

https://1.bp.blogspot.com/_DVIhvfZ_fM8/SQSbaRkIuqI/AAAAAAAAAok/ZS2r-cXTczU/S220/mostra_fotografiaautor.gif

 

(texto recebido por e-mail; autoria de jornalista não identificado)

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 12:49

Fevereiro 24 2010

  
 
Foto: Mário Rodrigues
Fonte: Revista Veja (10 de Fevereiro 2010, pág. 87)
 
 
Dificilmente nos dias de hoje alguém não tem qualquer veículo de informação à mão. Com a tecnologia avançada de comunicação, através de satélites, conseguimos saber o que acontece em qualquer parte do mundo em segundos e ao vivo. O problema é que são tantas as informações que nos chegam e tão rápido, que mal se tem tempo de digeri-las e de interpretá-las.
 
A sociedade contemporânea trocou o silêncio da observação pelo barulho estridente das notícias.  Através de torrentes de imagens e de palavreado convencional elas embotam nossos sentidos, confundem as nossas ideias, paralisam os nossos pensamentos, sugerem opiniões, “fazem” a nossa cabeça.
 
No Brasil, a grande maioria da população pouco ou nada lê. As notícias e a instrução chegam através da TV. Não temos cabedal educacional para avaliar com clareza. Como povão, falta-nos uma educação básica de qualidade que instrua, que esclareça, que ensine a valorizar os conhecimentos e a herança cultural que nos faz o que somos.  E a culpa, como insinuam os nossos intelectuais, não é exclusivamente do nosso passado colonial subserviente e ignorante,  ou do cabresto autoritário dos antigos coronéis da Republica. A culpa maior é das “elites” que governaram a nação brasileira que,  através dos tempos,  relegaram a segundo plano a educação, a ponto de torná-la cada vez mais fraca e insuficiente para uma população crescente em número e em ignorância. Faltaram investimentos e interesse político verdadeiro. Qualquer um sabe que é mais fácil conduzir um povo cego de conhecimentos e financeiramente dependente do Estado,  que um povo esclarecido e economicamente auto-suficiente. Só assim pode-se tentar entender a mentalidade acomodada e permissiva da maioria da população brasileira que ignora a corrupção e mazelas do governo.  Mas o povo não é tolo, sabe que a festa um dia acaba. Afinal, o dinheiro distribuído e levado nas cuecas não cai do céu, vem de quem trabalha e produz, vem dos impostos pagos por todos nós.  Se não houver produção e nem serviços não há pão,  muito menos benefícios. A diminuição da pobreza, fantasia do governo, não acaba com a distribuição de cestas ou esmolas. Acaba dando serviço e escola, ajudando o individuo a se qualificar para o trabalho.
 
A história da civilização ocidental mostrou ao longo dos séculos, através dos estudiosos e filósofos que mudaram a mentalidade do homem e a face das nações, que o ideal de prosperidade, igualdade de oportunidades e tolerância nas diferenças só se consegue através do aprendizado e do trabalho duro e honesto. Como dizem nossos sociólogos e historiadores, se somos uma nação jovem, porque não aprender com eles, aqueles que já sentiram na pele as dificuldades da sobrevivência!
 
Temos quase dois séculos de independência e a população brasileira ainda se deixa emprenhar pelos ouvidos, ignorando a razão e o bom senso. Não sabemos argumentar, discutir o que a inteligência nos mostra dos discursos que insinuam o que a gente já sabe ou intuí,  só para dar a ideia de conivência.    Somos um país multirracial, multicultural, onde se abre espaço para todos os credos, cores e culturas. Temos uma Constituição que garante os direitos fundamentais do indivíduo, desde que não firam a soberania nacional. Só falta respeitá-la. Socialmente ainda labutamos para termos oportunidades iguais de desenvolvimento, o que só chegará com educação básica de qualidade e obrigatória para toda a nação brasileira. Não há saída milagrosa que nos traga a paz e o progresso que a bandeira nacional nos deseja e nem líder que nos dê a liberdade económica, que a gente sonha, só o estudo e o trabalho.  É isto que a história da humanidade nos mostra.  
 
Uberaba, 16/02/10
 Maria Eduarda Fagundes
publicado por Henrique Salles da Fonseca às 09:59

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