Elos Clube de Tavira

Fevereiro 08 2011

 

 

Rugendas: Batuque

Fonte : Wikipédia

 

 

Júlio Ribeiro (1845- 1890) nasceu em Sabará, cidade colonial mineira, e morreu em Santos de tuberculose. Era filho de uma professora e de um americano boémio que chegou a Minas como artista de circo. Pouco depois do casamento abandonou mãe e filho, e sumiu para sempre. Do pai, Júlio herdou a agitação e a tendência a situações polémicas que se reflectiram no seu trabalho. Teve excelente formação académica, dominando inclusive várias línguas. Gramático, romancista, intelectual sarcástico e irreverente, naturalista, recebeu criticas contundentes por abordar na sua obra mais conhecida - A Carne - a sexualidade humana, coisa naquela época inconcebível.

 

Para ilustrar um aspecto da cultura negra no Brasil, um trecho que mostra como era uma “noite de festa nas senzalas”:

 

SENZALA - 1

SENZALA 2

SENZALA 3

Nota: Segundo a literatura popular, Pomba gira é uma entidade feminina de um culto afro-brasileiro que quando incorpora uma pessoa (médium) pode perverte-la sexualmente, dependendo das suas tendências.

 

 

Mª Eduarda Fagundes 2010.jpg Maria Eduarda Fagundes

Uberaba, 22 de Janeiro de 2011

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 09:31
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Janeiro 17 2011

 

 Caraça - Minas Gerais

Imagem fonte: Revista Check in (Ano 2- Numero 22)

 

 

Terra rica e de ambição Minas Gerais foi nos tempos coloniais local de eleição para gente de toda a espécie que buscava fama e fortuna. Vindos do reino e de outras regiões da Colónia, portugueses e brasileiros chegavam em levas. Aventureiros, padres, militares, fazendeiros, faiscadores, tropeiros, mulheres de vida fácil, fugitivos, todos se embrenhavam pelo interior, atravessando serras e rios, enfrentando desafios à cata de ouro, pedras preciosas, madeira, terras para desbravar e ocupar com a real anuência.

 

Conta a lenda, das muitas que a história de Minas guarda, que quando os bandeirantes incursionaram pelo interior centro-leste mineiro avistaram formações rochosas que, em certo sitio, desenhavam no horizonte o perfil da cara de um gigante. Chamaram-nas Serra do Caraça. Ali, a 1300 metros de altitude, no contraforte da serra, numa área isolada, cortada por rios e cascatas, cercada de Picos e matas, em 1700, se levantou um pequeno arraial, em busca de ouro. Era dono da sesmaria o padre Felipe Siqueira e Távora. Os mineradores, Domingos Borges e os irmãos Francisco e António Bueno. Ao que parece não acharam o que queriam pois, setenta anos mais tarde, as terras, então abandonadas, estavam nas mãos de um homem conhecido naquela região como Frei Lourenço.

 

Em 1730, não muito longe dali, no Arraial do Tijuco (hoje Diamantina) os diamantes brotavam dos rios. A Coroa lançava gulosamente suas regras para a instalação das Catas (5 mil reis por escravo), até que resolveu ela mesma ter um contratador para extracção das pedras. Mesmo com a guarda, e o controle do Intendente, pedras e ouro eram desviados na contabilidade de autoridades corruptas, no fundo falso das canastras, no bucho dos garimpeiros, no pau oco das imagens, na carapinha dos negros, debaixo das saias das quengas...

 

O Tijuco prosperava e se enchia de gente. Em 1754 o contratador marianense João Fernandes de Oliveira, amigo de Pombal, do tempo de estudante em Coimbra, acumulava bens e prestígio. Sua amante, Chica da Silva, filha de escrava com branco, alforriada por ele, rica e voluntariosa, se impunha na sociedade branca local. O brilho dos diamantes que carregava no pescoço e influência política do seu companheiro nivelavam-na socialmente. Na Igreja de Santo António o padre pedia respeito e sal, que naquela terra, longe do litoral, não havia para baptizar as crianças, nem para tratar o bócio das gentes.

 

No reino, D. João V depois de esbanjar fausto e riqueza deixou para seu filho, D. José I, um rombo no orçamento. Chamado para administrar as combalidas finanças da Coroa, Sebastião José de Carvalho e Melo tornou-se o seu mais importante e temido ministro. Para desconforto e desprezo da nobreza, com medidas duras, tentou fortalecer o poder real e expulsou os jesuítas do território português.

 

Em 1755 um grande terramoto, seguido de um maremoto, arrasa Lisboa. Pombal toma a frente e faz reerguer a capital portuguesa, mais bonita e moderna. O dinheiro vem dos altos impostos e dos diamantes que ainda chegam do Brasil, mas já sem a fartura do início de século. Em 1758, uma tentativa de assassinato contra o rei leva ao patíbulo nobres e extermina a família Távora. Um deles escapa, e tem a efígie queimada.

 

Diz ainda a lenda que um jovem, Carlos Mendonça Távora, teria chegado ao Arraial do Tijuco e em 1763 entrado na ordem Terceira de São Francisco como irmão leigo, assumindo o nome de frei Lourenço. Passados 7 anos, em 1770, saiu do Tijuco (Diamantina) e na região da Serra do Caraça, após 4 anos, ergueu “em distância de três léguas da matriz de Catas Altas uma capela da invocação de Nossa Senhora Mãe dos Homens”, diz o requerimento encaminhado ao príncipe regente, muitos anos depois. Doações e ajudas transformaram a capela numa igreja com douramentos, uma Santa Ceia pintada pelo Mestre Ataíde, um órgão e uma relíquia de São Pio, vinda da Itália em 1972. Dos lados da igreja, à direita e à esquerda, construiu alas de dois pavimentos para abrigar irmãos missionários, peregrinos e escravos. O misterioso frei Lourenço tinha um sonho: transformar o local num centro religioso e de estudo. Como não conseguiu atenção das autoridades para o seu intento, após varias petições, com receio de perder sua obra, doou em testamento o seu património para a Coroa, para que esta fizesse ali um lugar de santidade e um educandário para rapazes.

 

No seu testamento não revelou seu nome civil, mas diz coisas que fazem pensar. Ser natural de Nagozelo (Concelho de São João da Pesqueira) onde os Távora tinham um morgadio; em dicionários antigos portugueses Caraça era a sacada aonde condenados iam para a fogueira. Lourenço foi um mártir romano que morreu queimado. Coincidências, talvez...

 

Pós a morte do frei, ocorrida em 27 de Outubro de 1819, D. João VI entregou as terras e o eremitério aos lazaristas (Congregação da Missão). Com a chegada em 1820 dos Irmãos Leandro Rebelo Peixoto e Castro e António Ferreira Viçoso de Lisboa o sonho do frei Lourenço se tornou uma realidade. No local da antiga igrejinha levantou-se um bonito Santuário em estilo gótico, as alas foram ampliadas e receberam biblioteca, laboratórios, salas de aula e alojamento para padres e para estudantes.

 

Num país carente de escolas e de educandários de qualidade, o Colégio do Caraça, tornou-se referência nacional de educação para rapazes. Como tal funcionou de 1821 a 1968, quando um incêndio provocado por um fogareiro deixado aceso destruiu quase todas as instalações e mais da metade do acervo da biblioteca. Foi uma inestimável perda para a cultura e educação da sociedade brasileira. O Colégio acabou em cinzas, nunca mais se levantou.

 

No Caraça estudaram bispos, prelados, professores, políticos, advogados, muitos homens que marcaram a vida política e cultural do país. Os presidentes da República Afonso Pena e Artur Bernardes, foram dois deles. No tempo do Império, a fama do Colégio já era tanta que recebeu as visitas e presentes dos imperadores do Brasil, D. Pedro I e D. Pedro II, cada um a seu tempo. Conhecido pela disciplina rigorosa, onde a palmatória era usada, pelo emprego de métodos de ensino de qualidade e eficientes, tinha no seu quadro de mestres professores nacionais e estrangeiros.

 

Para coibir a indisciplina dos filhos, os pais daquele tempo diziam: “Olha que te mando para o Caraça”!

 

O Parque do Caraça, antigo património do frei Lourenço, hoje é Reserva Particular do Património Natural. Das ruínas e com o que se salvou do sinistro, construiu-se um Museu, uma nova biblioteca, e fez-se uma pousada para receber hóspedes em busca de sossego. O Santuário Nossa Senhora Mãe dos Homens e o seu entrono restaram intactos. Os irmãos lazaristas da Congregação da Missão ainda continuam lá, à frente da propriedade.

 

Chegar ao Caraça é voltar no tempo, longe da TV, do tumulto das cidades, da violência. É ouvir histórias antigas onde realidade e lenda se misturam de uma forma que não se sabe quando termina uma e começa a outra. É ter a oportunidade de consultar livros esquecidos, ou repousar simplesmente. Comer alimentos saborosos e saudáveis da horta dos padres, cuidada por um velho descendente de escravos, é um lauto prazer. Vencer a serra, caminhar nas trilhas das matas, descobrir plantas e animais, riachos e cachoeiras, admirar a beleza e a tranquilidade da natureza é se reencontrar consigo mesmo. À noitinha, na adro da Igreja, depois da missa e do jantar, esperar o ameaçado lobo-guará se aproximar e vê-lo comer das mãos dos frades, como fazia frei Lourenço. O Homem ali está mais perto de Deus.

 

  Maria Eduarda Fagundes

 

Uberaba, Janeiro de 2011

 

Fontes:

Wikipédia

www.santuariodocaraça.fot.br

Monografia de André Coutinho Barbosa (Geoprocessamento) da UFMG

Check In revista de turismo (Ano 2 n.o 22)

Chica que manda (Agripa de Vasconcelos)

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 08:39
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Outubro 18 2010

 

 

O homem de bem deixa uma herança aos filhos de seus filhos.”

Provérbios, 13:22

 

 

Se – como afirma Salomão, o rei-sábio – “O homem de bem deixa uma herança aos filhos dos filhos”, nada mais natural que uma nação de bons princípios e de tradição humanista, galardoe as “nações filhas” com herança tão sólida e valiosa que se perpetue em sua história. Esse é o caso de Portugal em relação, especialmente, ao Brasil. Sem exagero, podemos considerar ter recebido da “mãe pátria” não uma singela, mas uma tríplice herança. Herança que, portanto, se consubstancia nas três benesses a seguir explicitadas.

 

PRIMEIRA HERANÇA – A FÉ CRISTÃ – Se, em 22 de abril de 1500, alguém, na praia da terra a ser descoberta, visse surgir algo inusitado no horizonte, essa primeira visão teria sido a da Cruz da Ordem de Cristo, presente nas velas das naus portuguesas que se aproximavam. Por sua vez, os de bordo, avistando o que imaginavam ser uma ilha, designaram-na “Ilha de Vera Cruz”. Desfeito o equívoco, mudaram o nome para “Terra de Santa Cruz”. Tudo nesse primeiro contato de Portugal com Brasil faz referência à cruz – símbolo da fé cristã. Fé que foi aceita e absorvida em seu mais sagrado sentido: o da tolerância religiosa, do respeito à diversidade de culto e doutrina de cada um, firmando o princípio da crença no Deus que criou os homens e não no Deus que os homens criaram. Dessa forma, todos podem realizar seus cultos de acordo com sua própria consciência, sem imposições ou interferências de quaisquer autoridades eclesiásticas ou governamentais. Por essa tradição de harmonia e paz, já foi referido o Brasil como “Pátria do Evangelho e Coração do Mundo”. Pátria do Evangelho porque a fé cristã predomina em todo o imenso território nacional, mas Coração do Mundo porque todas as manifestações religiosas de todos os matizes gozam de liberdade ilimitada. Nações há em que tais diferenças geram guerras e genocídios. Em outras, se tanto, toleram-se as divergências, o mais das vezes sob o manto do desprezo,. Aqui não há meramente tolerância. Há respeito! À guisa de exemplo, em São Paulo a OAB realiza, todos ao anos, ato inter-religioso em que se manifestam padres, pastores, dirigentes espíritas, rabinos, xeques, monges budistas e líderes de religiões orientais e afro, em um mesmo templo, sob a atenção respeitosa de todos os presentes!

 

SEGUNDA HERANÇA – A LÍNGUA PORTUGUESA – Outra e também notável herança é a Língua Portuguesa – “Última flor do Lácio, inculta e bela” – uma das mais extraordinárias, versáteis e melodiosas línguas do mundo! Rica em flexões e em figuras, possui construções e palavras muito suas, como o sonoro infinitivo pessoal flexionado e vocábulos tais como luar e saudade! Equivoca-se quem ousa traduzir esses termos por moonlight e remembrance... Remembrance é apenas lembrança, mas há muitas coisas das quais temos lembrança... e nenhuma saudade! Moonlight é somente luz da lua. Para ser luar, falta-lhe o romantismo, de que não se separa um milímetro, como bem o sabem os corações enamorados, assim como não há falar em saudade sem o intenso componente nostálgico que impregna essa suave palavra!

A expressão de Caminha: “Nesta terra em se plantando tudo dá” estendeu-se também à língua e de tal forma que, apesar da dimensão continental do Brasil, um mesmo idioma é falado e entendido, sem sacrifício, do Oiapoque ao Chuí! Países bem menores, como Espanha, Itália e Suíça não gozam desse privilégio! Por isso é lamentável a enxurrada de estrangeirismos dispensáveis que vêm sendo colocados em circulação, apenas por modismo ou pedantismo (esnobismo, para ilustrar...). Bom seria se todos declarássemos, com Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac: ”Amo-te, ó rude e doloroso idioma”!

 

TERCEIRA HERANÇA – O HUMANISMO LUSÍADA – Uma sensível diferença distinguiu o colonizador português de todos os demais. Aqueles estabeleciam uma “linha demarcatória” entre colonizador e colonizado: o senhor e o servo. Essa linha jamais podia ser transposta, o que deu origem a terríveis e incessantes combates entre as partes. Ao contrário disso, o colonizador português se aproximou dos colonizados, mesclando-se com índias e negras. Assim, em vez de fazer inimigos, fez parentes! Mais do que isso, procedeu ao início de um caldeamento de etnias que desaguaria na formação de um povo único na face da terra: o brasileiro! O “homo brasiliensis”! Foi precisamente isso que se viu na 1ª. Batalha de Guararapes, de 19 de abril de 1648, quando brancos, índios e negros – sob o comando de André Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e Henrique Dias – se unem para combater o invasor holandês. É quando, pela primeira vez “na história deste país” se fala em “tropa brasileira”! Em consonância com essa realidade, assim principia a poesia “Raça”:

 

O brasileiro traz dentro de si

Um português, um negro e um índio guarani. 

O luso deu-lhe a fibra audaz, arrojadiça

E a fidalguia própria dessa raça.

O índio, a indolência, a preguiça

O amor à pesca, a inclinação à caça.

No excesso de carinhos e de zelos

Reflete do africano o meigo coração

E às vezes, dos cabelos, aquela permanente ondulação...

 

Por tudo isso, nós, luso-descendentes temos orgulho de ostentar mais esta herança: o sobrenome que nos qualifica: Silva, Sousa, Pereira, Fernandes, Moura, Martins... e, é claro, o meu: Oliveira!

  

 João Baptista de Oliveira (*)

 

 (*) Consultor de Empresas, é Advogado, Professor, Jornalista e Escritor. Foi Governador de Elos Internacional, Distrito 2. É Membro da Academia Cristã de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 14:29
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Julho 23 2010

 

 Rugendas: Derrubada de uma floresta

Fonte: Wikipedia

 

 

 

Em tempos passados, o centro-oeste brasileiro exemplo de prosperidade e de auto-sustentabilidade, destaque na economia nacional, foi palco de conflitos entre homens que procuravam novas terras para viver e índios aguerridos, senhores daquele espaço. Nas disputas entravam também negros aquilombados, padres gananciosos, aventureiros desassombrados, facínoras, fugitivos da lei, “mulheres de vida fácil”, todos à procura oportunidades e riqueza.

 

As sesmarias distribuídas pela política pombalina, como premio ou a quem as dispusesse desbravá-las, custaram a ser ocupadas. Dificultavam o intento aqueles que aterrorizavam os caminhos das minas e as tentativas de estabelecimento dos novos donos das datas.

 

 Área de passagem, pontilhada por aldeamentos indígenas e quilombos que, destruídos pelos militares e bandeirantes contratados, depois de muitos anos de ferrenhas lutas, deram lugar a arraiais e mais tarde a cidades.

 

Na maioria das vezes, os pioneiros chegavam com a família. No início, depois que se instalavam, chamavam os irmãos, cunhados, parentes e amigos e com eles dividiam as terras e os trabalhos. Assim conseguiam sobreviver. Abriram clareiras nas matas cerradas, construíram casas, formaram pastos e plantaram para a subsistência. Os fazendeiros mais abastados deram terreno para a construção de igrejas. Em volta delas apareceram os cemitérios, ruas de terra batida, moradias e pequenas lojas de comércio e delegacias. Com a migração (nacional e estrangeira) e o passar do tempo chegaram as modernidades; portos fluviais, estações, ferroviária e rodoviária, escolas, câmara de deputados, hospitais, até cinemas. Os coronéis, ricos fazendeiros que influíam na segurança, economia e política da região, tinham autoridade conferida pelo governo. Nas vindas à cidade, construíam palacetes, participavam das festividades, traziam os filhos para a escola, faziam compras de elementos industrializados e importados, comercializavam gado e produtos artesanais. As cidades cresciam, mas era ainda a fazenda a base das suas vidas. Isso se inverteu, à medida que as necessidades mudaram com o evoluir dos tempos.

 

Em 1808, quando a Corte portuguesa chegou ao Rio de Janeiro, cansada e faminta, quem abasteceu de carne a cidade carioca foi principalmente o gado que vinha de Minas Gerais. Conta ainda a história, como facto pitoresco que, à falta de moradias, o príncipe regente mandou que se dispusessem das melhores casas para a nobreza. Para tal, as escolhidas tinham as letras P.R. (propriedade real) colocadas na porta para indicar que os moradores teriam que sair para dar lugar aos recém-chegados do reino de Portugal. Os cariocas logo interpretaram jocosamente como Ponha-se na Rua!

 

Naquela ocasião, a população da cidade triplicou de repente. A solução para muitos desses chegados e deslocados foi migrar para outras bandas com seus familiares e escravos, para tentarem novas fontes de renda. Com o fortalecimento do comércio, desenvolvimento de lavouras, pecuária e usinas, o interior ganhou um sopro civilizacional, onde surgiram ricas famílias com ares de nobreza, agora interiorana.

 

Mas se o isolamento – motivado pelas grandes distancia e instigado pela ancestral política de segredo da Coroa, no intuito de esconder as riquezas brasileiras à cobiça do estrangeiro – facilitou a impunidade e despotismo dos primeiros mineiros, também propiciou ao aparecimento de uma nova sociedade, com costumes arraigados, fundamentada no poder patriarcal dos grandes latifundiários, homens que fizeram daquele espaço seus reinos.

 

 

Foto: Donato Rispoli Borges

Livro: Memórias de Conquista

 

Muitas são as histórias que se ouvem sobre a vida dos antepassados recentes dos actuais triangulinos. Através dos rios, das ferrovias e estradas, abertas pelos antigos bandeirantes, chegavam noticias e novidades dos centros urbanos importantes e iam as riquezas minerais e as rezes, tocadas pelos tropeiros. Nas épocas festivas, como no natal, eleições, comemorações cívicas e na chegada do circo, a cidade recebia visitantes. As bandas desfilavam e tocavam no coreto, alegrando a praça que se enchia de gente para congraçamento. As moças casadoiras, faceiras, em grupos, como andorinhas, passeavam entre as barraquinhas de quitandas (roscas, pão de queijo, biscoitos de polvilho, bolo de mandioca,...), ou caminhavam de num lado da rua, enquanto do outro os rapazes as observavam atentamente. Ao som da música, o “correio elegante” levava e trazia recados na tentativa de futuros compromissos. Às vezes, daí saía até casamentos.

 

Altas horas, depois da sessão de cinema, os enamorados faziam serenatas para as suas eleitas, recebendo, vez por outra, baldes de água fria atirada pela janela em pagamento!

 

Nas biroscas, desordeiros e valentões, com a “moringa” cheia de cachaça falavam alto, mediam forças e se desafiavam a “maneirar” – (luta de punhal ou de tiro onde os contendores têm as camisas amarradas entre si, e que só termina com a morte de um deles, ou dos dois).

 

Nos idos 1900, naquelas bandas do Triangulo era comum andar-se armado. Crimes encomendados, desafios, disputas amorosas, políticas e de terras, com frequência levavam a tiroteios, não raras vezes com mortes e evasão dos assassinos para paradeiros ignorados.

 

Na nossa região, ficou famoso o caso do filho do Barão de Jaguara, Manoel Pereira, por todos conhecido como Neca Pereira. Homem rijo, de princípios, abastado, influente, exímio atirador, despertava respeito e inveja. Era capaz de acertar com rapidez e precisão a boca de garrafas dispostas em fila, pelo gargalo. Praticava todos os dias e andava sempre com a sua Winchester papo – amarelo junto à perna, enfiada no cano da sua bota. Não se sabe ao certo, porque motivo e quem encomendou o seu extermínio. Para tal contrataram quatro pistoleiros goianos, profissionais competentes na arte de matar. Estes escolheram a noite em que ele pegou o trem de Rifania para Uberaba. Embora rico, preferia viajar na segunda classe, confortavelmente instalado nos bancos laterais, que lhe davam visibilidade geral do que se passava no ambiente. Ao parar na estação intermediária do Erial, um amigo o reconheceu e chamou-o pelo nome. Num relance, ao se virar, recebeu uma saraivada de balas dos bandidos. Mesmo mortalmente ferido, puxou da sua arma e fuzilou um a um, sem perder um tiro, os quatro. Quando chegou ao hospital, em Uberaba, exangue, já muito fraco, não suportou a cirurgia e morreu no acto operatório.

 

Assim era o Triangulo Mineiro do passado e que ainda se pode ver, agora com outras regras e nuances, num outro palco e com protagonistas dos tempos actuais...

 

Uberaba, 16/05/2010

 

 Maria Eduarda Fagundes

 

Dados históricos e fotos:

Memórias de Conquista (Donato Rispoli Borges);

Rugendas - Derrubada da floresta (Wikipédia)

A oeste das Minas ( Luis Augusto Bustamante Lourenço)

1080 ( Laurentino Gomes)

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 11:19
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Junho 29 2010

 

 

http://www.youtube.com/watch?v=YERFC3uHPbs&feature=related

 

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 18:41
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Junho 07 2010

De Onde o Brasil Desandou a Ser Caostólico

 

Aquele que se endeusou nas palavras como esgrima

Sermões ensandecidos como se em afiadas catarses

Que se metamorfoseou tropical em aura e halo, deu-se

Para silvícolas, cristãos novos, brasilíndios em latim

Profeta do mundo entrevado por colonizações brutais

 

Padre Vieira que a partir de um fecundo "Pau-Brasil"

(Que é como deveria chamar-se a terra invadida;

Santa Cruz Brasilis) quase que em loucura perene

Despojou-se em palavras, vinho-verbo, tomos letrais

Ensoberbado por achar-se em luz e pleno pulvis

 

Aquele que (só ele) sabia descodificar-ler-(se) Deus

Em traduzi-Lo muito além de seu meio, contexto-caos

Porque católico e a inquisição viçava nodal e podre

Ainda assim em auto-exilio sectário filosofava-se

Pedras-criaturas: cetras cortantes, conceitos-odes

 

Jorro neural destilando-se em transe espiritual

(O clima; angústia - a alma, (in)purezas pegajentas)

E deixou o fio-terra litúrgico, legado banzo-elíptico

Não ainda traduzido para o real magma telúrico

Teologia-história, tupidavidico, amalgamados negredos

 

Amou seu próprio Cristo interior como trovattore

Oficial de Deus, em pan-crucifixação carimbada

E de si como se fora um eclesiástico apóstolo fiel

Foi em si mesmo Isaías enfermo e ainda todo pleno

No inferno-colónia reflectindo fugas em palaveiros.

 

 

 Silas Corrêa Leite

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 17:26
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Março 09 2010

 

 
 
Acostumei-me a vê-lo todo o dia
De manhãzinha, alegre e prazenteiro,
Beijando as brancas flores de um canteiro
No meu jardim – a pátria da ambrosia.

Pequeno e lindo, só me parecia
Que era da noite o sonho derradeiro…
Vinha trazer às rosas o primeiro
Beijo do Sol, nessa manhã tão fria!


Um dia foi-se e não voltou… Mas quando
A suspirar me ponho, contemplando,
Sombria e triste, o meu jardim risonho…


Digo, a pensar no tempo já passado:
Talvez, ó coração amargurado,
Aquele beija-flor fosse o teu sonho!


Auta de Souza
 
in http://lumeear.blogspot.com/2010/03/o-beija-flor.html
 

Auta de Souza
Auta de Souza
Fotografia de Auta de Souza (1900).
Nascimento 12 de Setembro de 1876
Macaíba
Morte 7 de Fevereiro de 1901 (24 anos)
Natal
Nacionalidade Brasil Brasileira
Ocupação Poetisa
Magnum opus Horto

Para saber mais, consultar http://pt.wikipedia.org/wiki/Auta_de_Souza

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 08:37
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Março 04 2010


Abençoados os que possuem amigos,

os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede,

não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos,

os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala,

não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos,

os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos

que acreditam na tua verdade

ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direcção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram

por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem

por saber que os espinhos têm rosas!

 
 
Joaquim Maria Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis
Nascimento 21 de Junho de 1839
Rio de Janeiro, Brasil
Morte 29 de Setembro de 1908 (69 anos)
Rio de Janeiro
Nacionalidade Brasil brasileira
Ocupação romancista, contista, poeta, dramaturgo, cronista, crítico literário, teatrólogo
Magnum opus Memórias Póstumas de Brás Cubas
 
 
Assinatura Assinatura de Machado de Assis.gif
publicado por Henrique Salles da Fonseca às 07:27
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Fevereiro 27 2010

 

(1887 - 1959)

 

 

ELINA GARANCA – BACHIANA BRASILEIRA Nº 5 (CANTILENA)
 
http://www.youtube.com/watch?v=n-m3LQCTxo0&feature=related
publicado por Henrique Salles da Fonseca às 09:23
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