POEMA SEM TÍTULO
Escrever,
Escrever-te a ti
Escrever-lhe aos alentos que nos ficarem em cada cidade,
Escrever quando posso e quando não estamos
Escrever-te em quanto perco o tempo
Apostando por estâncias em palácios de reinos Já conquistados.
Buscando a formula magistral para
Não deixar de escrever-te,
Porque isso seria
Uma tragédia
Deixar de escrever-te seria
Uma tragédia.
Topei passos escondidos esperando ser andados
Não me importa levar os cordões dos sapatos
Sem atar,
Nem carregar a minha mochila
De coisas incisarias,
Um io-io, uma garrafa vazia
Três canetas e duas maças,
Ainda que as maças,
Não deixam de ser necessárias.
Escrever,
Escrever-te a ti
Contar-te, como se a primeira vez
O muito que gosto da neve,
Ou caminhar despida pela casa,
E quando posso
Subir as cerdeiras para comer cerejas;
Andar pelos caminhos por onde não passa ninguém,
Estar na cima do teu colo
Em quanto o coração te bate a ritmo de cantiga de berço
Exercendo um efeito sedativo
Sobre mim
E a minha mão direita;
Baixar as escadas sempre a correr,
Passar para dentro e para fora
Sem parar muito,
Estar calada, durante muito tempo estar calada
E quando menos o esperes
Falar em idiomas diferentes
Criados para dizer frases curtas, e logo
Ser esquecidos.
Sempre poderia escrever-te um conto,
Um desses com final feliz,
Ou uma novela, de intriga
Uma novela de amor,
Quem diz um conto ou uma novela
Diz um poema,
Por que não?
A lírica, o que tem
E que sempre emociona.
Eu, no fundo
Prefiro apertar a minha cara contra a tua
E deixar que um a um
Os silêncios
Falem por mim
Belém de Andrade