Elos Clube de Tavira

Abril 30 2010

 http://www.teiaportuguesa.com/manual/unidade17lusofonialingua/imagens/lusofonia.gif

 

O Elismo surgiu em 1959 na cidade de Santos, por inspiração, vontade e capacidade de homens de elevados ideais, cresceu, expandiu-se, desde logo no Brasil e a seguir em Portugal, e vive graças ao empenhamento, à persistência e ao elevado espírito de sacrifício de tantos que se comprometeram, comungam e acreditam em ideais de contribuição para a vivência e necessidade de engrandecimento da denominada Comunidade Lusíada.

 

Integrados nesta Comunidade está todos quantos somos portadores de uma específica cultura, defendemos valores e aceitamos princípios que caracterizam povos e homens que durante séculos viveram lado a lado, constituindo politicamente várias nações mas apenas um único Estado.

 

E o elo, o grande e o mais importante elo que a todos nos une e contribui para a existência e plena vivência da denominada Comunidade Lusíada, é a língua, a língua que todos nós falamos e se orgulha de ser uma das poucas línguas que é conhecida e falada habitualmente por muitos milhares de pessoas em todos os continentes, como reconheceu o Parlamento Europeu em 2003 ao declarar que é uma “língua Europeia de comunicação universal.” É, alem disso, a 5ª língua mais falada em todo o mundo, constituindo como que a argamassa, o cimento, a força que une e permite identificar e unir todos quantos a falam, a lêem e a escrevem.

 

Por isso, o património histórico, cultural e linguístico daquilo a que se vem chamando Lusofonia, é a melhor, a mais elevada e a mais significativa expressão que nós Elistas podemos orgulhosamente alardear e patentear perante a Comunidade Internacional.

 

E não podemos esquecer e devemos ter sempre presente que o Movimento Elista teve desde o seu início e tem ainda hoje na sua base, na sua estrutura e como razão de ser e de existir, uma filosofia humanista e como principais objectivos, justamente a defesa da língua portuguesa e da consequente cultura lusíada, enraizada e formatada durante vários séculos nos cinco continentes.

 

Essa filosofia e seus crescentes e significativos objectivos, estão intimamente ligados e seriamente comprometidos com a preservação da identidade nacional de cada um dos povos que integram a Comunidade Lusíada, com total e indiscutível respeito pelas particularidades culturais e típicas de cada um desses povos, como sejam os seus próprios usos e costumes, as suas tradições, a sua própria história e os seus credos religiosos.

 

Aquela defesa da filosofia humanista, a defesa da língua e da cultura lusíada, a defesa dos princípios da tolerância, da compreensão, da aceitação das diferenças, da liberdade e da solidariedade, essa disposição e entrosamento para defender a compreensão e a paz entre todos os homens e todos os povos do mundo, seja qual for a sua cor e a sua religião, tal como se dispõe na sua carta de princípios, é incumbência, é mesmo obrigação que todos nós elistas devemos ufanamente assumir e terá de ser, se não a única, pelo menos a principal razão por que devemos ser sócios de um Elos Clube e devemos, dentro e fora dele, lutar pela efectiva realização desses ideais e desses objectivos.

 

Em tempos da denominada e tão apregoada globalização, em que alguns estão apostados em fazer desaparecer a identidade dos povos e das nações e em que se defende e pretende que uma outra língua venha ocupar o lugar e fazer passar a nossa a língua morta, tudo para que deixemos de ser o que somos e como somos, importa que o Movimento Elista tenha cada vez mais aderentes, prontos e dispostos a defender e a lutar não apenas pela sua própria identidade de pessoas como são e gostam de ser, como também pela identidade das diversas comunidades, povos ou nações em que cada um está inserido, certos de que é a língua portuguesa o elo fundamental que nos une, que unifica todos quantos comunicam entre si, por meio dela, no seu dia-a-dia.

 

A todos aqueles que comungam nestes ideais e nestes valores qualquer que seja o país ou a parte do mundo em que se encontrem, se deixa o apelo de que adiram ao nosso Movimento Elista, seja e principalmente através da inscrição como associado num dos Clubes existentes na cidade ou região em que resida, seja através da realização de diligências tendo em vista a constituição de um novo Elos Clube.

 

Actualmente existem vários Clubes em actividade, tanto no Brasil como em Portugal e pelo menos, um em Moçambique e outro em Macau, no dia 19 de Abril de 2007 abriu solenemente mais um em Portugal, na cidade de Alcanena e estão a ser efectuadas diligências no sentido da constituição de outros, designadamente em Angola e Cabo Verde.

 

 Alcindo Augusto Costa

Presidente do Elos Internacional de 2005 a 2009

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 08:52
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Abril 29 2010

MARIA DA FÉ

 

http://www.youtube.com/watch?v=5IfhsMWcj5s&feature=related

 

 

https://1.bp.blogspot.com/_YWaNFkS6wQw/SIE5u5LZb-I/AAAAAAAAAhk/qU7rwPCq97w/s320-R/Maria+da+F%C3%A9+e+Ricardo+Ribeiro.png

 

 

Maria da Fé, de seu verdadeiro nome Maria da Conceição Costa Gordo, (Porto, 25 de Maio de 1945) é uma cantora de fado portuguesa, considerada um expoente nesta expressão musical.

 

Cedo se põe a cantar o fado. Já aos nove anos, na sua cidade natal, participa em festas particulares, ganhando concursos.

 

Com dezoito anos muda-se para Lisboa, sendo logo contratada para cantar nas principais casas de fado e depois no Casino do Estoril.

 

O seu primeiro disco é de 1959. Esta criação dá-lhe projecção nacional. Inicia em 1963-64 a sua experimentação musical lançando o Pop-Fado, algo criticado por tradicionalistas, mas que lhe rende maior projecção. Em 1967 alcança finalmente o sucesso com as canções Valeu a Pena, Primeiro Amor e 20 Anos.

 

Casa-se em 1968 com o compositor e também fadista José Luís Gordo, que lhe dedica algumas composições e a tem como autêntica musa. No ano seguinte torna-se a primeira fadista a participar no Festival RTP da Canção.

 

Em 1975, junto com o marido e António Mello Correia, inaugura o restaurante Sr. Vinho, onde o fado é um dos atractivos, na linha da velha tradição das casas de fado. Esta casa torna-se um dos importantes espaços culturais de Lisboa.

 

Participa num dos filmes protagonizados pelo actor americano Robert Wagner, interpretando dois dos seus maiores sucessos: Cantarei até que a voz me doa, e Portugal, meu amor, acompanhada por quatro instrumentistas.

 

Maria da Fé é uma das raras artistas portuguesas a levar o fado até ao Brasil (1984 - 1987), actuando nas principais casas de espectáculo do Rio de Janeiro e de São Paulo. Faz chegar o fado a outros países, como os Estados Unidos, Bélgica, Itália.

 

O cantor e compositor brasileiro Caetano Veloso homenageia a grande fadista no seu álbum "Língua Portuguesa".

 

No ano de 2005 o Ministério da Cultura de Portugal, atribui-lhe a Medalha do Mérito Cultural, como reconhecimento por uma carreira de mais de quarenta anos, defendendo uma das mais legítimas vozes culturais do país. Recebe ainda a Cruz de Mérito da Cruz Vermelha Portuguesa e a Medalha de Ouro da Cidade do Porto.

 

Em 2006, Maria da Fé é distinguida com o Prémio para a Melhor Intérprete Feminina de 2006 pela Fundação Amália Rodrigues.

 

Em 2009 celebra 50 anos de carreira. Em 25 de Junho actua no Coliseu de Lisboa e recebe em cena aberta a Medalha da Cidade de Lisboa e a Placa de Prata da Sociedade Portuguesa de Autores.

 

in Wikipedia

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 09:40
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Abril 28 2010

 

 

Marcelino Lima, historiador e pesquisador açoriano, no seu livro Famílias Faialenses – Subsídios para a História da Ilha do Faial, faz uma breve história sobre Martim Behaim.

 

Segundo ele, o famoso construtor do mais antigo globo terrestre conhecido nasceu em Nuremberga entre 1430 e 1436. Seus pais, Martim Behaim e Agnes Schopper, provinham da remota Boémia e enriqueceram com o comércio na cidade de Nuremberga.

 

Martim Behaim filho recebeu uma das melhores educações que podia haver na época. Foi discípulo de Camille Jean Müller de Monte Régio (Regiomontano) célebre matemático e astrónomo. Aos 17 anos saiu de sua cidade natal e foi para Mechelen. Viajou como comerciante por Veneza, Anvers, Malines, Frankfurt, Viena. Sem muito sucesso nessa actividade, empregou-se em casa de mercadores e tintureiros de panos.

 

Em 1484, em Anvers, tomou contacto com flamengos que mantinham relações comerciais com Lisboa. Possivelmente impressionado pelas façanhas marítimas dos portugueses, resolveu visitar Portugal. Nessa época, a escola de navegação de Sagres recebia muitos homens, como Perestrello, Cadamosto, Colombo, Vespúcio, navegantes que ofereciam seu engenho e arte a quem quisesse descobrir os mistérios do mar. Todos buscavam fortuna, fama e reconhecimento. No começou supõe-se que chegou como especulador mas naquele meio náutico seu génio aflorou e a vocação para obras maiores levaram-no a ser reconhecido por D. João II, grande rei português, impulsionador dos grandes descobrimentos marítimos. Foi acolhido à célebre junta do aperfeiçoamento do astrolábio em que, entre outros, faziam parte os judeus médicos do Paço Mestre Rodrigo e Jusepe, facto contestado pelo historiador Joaquim Bensaúde (Legendes Allemandes). Acompanhou Diogo Cão na segunda viagem de exploração da costa africana (atingindo o rio Zaire). Foi premiado pelo rei que o fez Cavaleiro da Ordem de Cristo. Fez trabalhos valiosos para a navegação. Fernão Magalhães descobre o estreito a que deu o nome observando uma carta desenhada por ele. Colombo fortalece a sua ideia de viajar para o ocidente para atingir as Índias. Mas os portugueses já tinham fortes indícios de lá chegar navegando pelo oriente.

 

Numa das viagens que fazia com frequência a Lisboa, onde tinha também residência, o flamengo Josse Hurtere (Jorge Dutra), donatário das ilhas do Faial e Pico, travou conhecimento e relacionamento com Martim Behaim. Desta ligação surgiu o casamento dele com Joana de Macedo, filha do donatário das ilhas com a dama da corte portuguesa Brites de Macedo. O casamento provavelmente foi negociado, pois a noiva tinha de 13 a 14 anos e Martim Behaim já passava dos 40. Casado foi morar no Faial, na cidade da Horta. Em 1490 viaja à sua terra natal para receber a herança de sua mãe falecida a 1487.

 

Durante a permanência de dois anos em Nuremberga, construiu o famoso globo terrestre que lhe eternizou o nome e sobre o qual muito se escreveu de louvor, crítica, análise e controvérsia. Para a época, foi uma obra interessantíssima baseada à luz dos conhecimentos clássicos de Ptolomeu, Estrabão, Plínio, Marco Pólo e pelas novidades das descobertas portuguesas de que ele tinha conhecimento através das próprias experiências adquiridas nas viagens que fez.

 

Martim Behaim e o seu globo

http://images.google.pt/imgres?imgurl=https://1.bp.blogspot.com/_9Hs6UDWWUQM/SMWuTq-D1aI/AAAAAAAAAlI/ys_PjZaWvBs/s400/Martin_Behaim.jpg&imgrefurl=http://domjoaosegundo.blogspot.com/&usg=__YOCigboGooZQMkdzzFjtGij5xJk=&h=199&w=128&sz=6&hl=pt-PT&start=1&um=1&itbs=1&tbnid=nwGR1JMbqs02AM:&tbnh=104&tbnw=67&prev=/images%3Fq%3DMartim%252BBehaim%26um%3D1%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DN%26tbs%3Disch:1

 

A obra de Martim Behaim, o globo terrestre, tinha 7,5 m de diâmetro, era revestido por pergaminho sobre o qual escreveu e desenhou o que se conhecia na época. É trabalhado em ricas iluminuras, contendo legendas explicativas. Os nomes dos lugares foram assinalados a tinta vermelha e amarela. A nacionalidade de cada país é indicada pela bandeira e brasão de armas respectivos a cores vendo-se também, referentes a cada região, os modelos de moradas e figuras de habitantes com os seus trajes típicos. É interessante notar que ele colocou as ilhas do Faial e Pico assinaladas sob bandeira das armas dos Behains.

 

O Faial é designado Nova Flandres em razão de serem de Flandres os primeiros colonos e o donatário Josse Hurtere, seu sogro. O Globo foi concluído em 1492 e oferecido a Nuremberga, sua cidade natal. Na Academia de Ciências de Lisboa há uma reprodução.

 

Voltando a Portugal, Martim Behaim vai para o Faial, onde ficou pouco tempo, pois o rei D. João II incumbiu-o de, em missão secreta junto a Maximiliano, rei dos romanos, para que este intercedesse junto à Santa Sé para legitimar D. Jorge (filho natural de D. João), que o rei se empenhava em habilitar para o suceder na Coroa. Porém, a caminho da missão, em alto mar, o navio de Martim foi tomado por um corsário que o levou para Inglaterra. Lá ficou três meses. Retido, adoeceu, mas mesmo assim conseguiu fugir a bordo de um navio pirata que o levou até França. De lá foi à Flandres. Em 1495 já se encontrava de volta a Lisboa. Lá ficou na obscuridade até ao seu falecimento, muito pobre, num hospital.

 

Num documento da época, da Chancelaria Real, conta-se que a sua jovem esposa tinha um relacionamento amoroso com um escudeiro de nome Fernão de Évora que foi expulso do Faial pelo irmão de Joana de Macedo e enviado a ferros para Lisboa. Em Cabo de São Vicente conseguiu escapar. Procurou e conseguiu o perdão do rei. Mas esse homem, desafiando a autoridade do donatário da ilha, confiando na carta de seguro que o rei lhe dera, tornou a voltar ao Faial. Ignorando a carta de seguro, autoritário e de maus bofes, desta vez prendeu o escudeiro e enviou-o para a Ilha da Terceira onde ficou retido.

 

Com pedidos de familiares junto à Corte, Fernão de Évora conseguiu junto à Coroa, um indulto. Liberto nunca mais se soube dele. Quanto a Joana de Macedo ficou-lhe a fama. Supõe-se que o marido ficou ciente do ocorrido, e por isso se isolou sozinho em Lisboa até morrer a 29 de Julho de 1507, onde foi sepultado na Igreja de São Domingos.

 

Em 1519, seu filho português do mesmo nome, mandou colocar em Nuremberg, na Igreja de Santa Catarina, uma lápide comemorativa em memória do pai. Na Praça Tereza há uma estátua de bronze dele com as armas de Portugal.

 

Joana de Macedo voltou a se casar desta vez com D. Henrique de Noronha (quarto neto de D. Henrique II de Castela), e foi viver na ilha da Madeira. Martim Behaim filho passava tempos em Lisboa, na casa de uma tia e na Madeira com a mãe. Numa das viagens entre a Madeira e Lisboa matou um homem, em legitima defesa. Foi solto devido à intervenção do legado pontifício que o considerava bom cristão e rapaz polido.

 

 

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Em 1520 Behaim neto vai a Nuremberg receber a herança que lhe pertencia pelo falecimento de seu tio Wolf. Na volta a Portugal trazia uma carta de recomendação do Senado de Nuremberg para D. Manuel pedindo que o empregasse no seu serviço, em atenção aos merecimentos do pai e da sua ilustre estirpe. Dessa data em diante não se tem mais nada relatado sobre a vida de Martim Behaim filho.

 

Uberaba, 3 de Março de 2010

 

 Maria Eduarda Fagundes

 

Dados e notas retiradas e resumidas do livro de Marcelino Lima FAMILIAS FAIALENSES. (Subsídios para a história da Ilha do Faial)

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 09:11
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Abril 27 2010

 

 

EMILIANO DA COSTA

 

Aves, flores, saudades

 

Sol a sol, desde a serra até ao mar,

Das pegas-rabilongas às gaivotas,

A orquestra alada, requintado as notas,

De nascente a poente é só tocar:

 

Ocarinas em fila – terras-cottas

Em beirais de telhado; à beira-mar,

Flautas de abibes; harpas de luar

Em garças ribeirinhas, nas marnotas;

 

Ao longo das ribeiras são as filas

Dos violinos – sílvias e fringilas –

Violetas, violas-trisonoras

 

E no alto do céu, flamas em jogo,

A regê-los, o Pássaro de Fogo

Peneira as grandes asas criadoras.

 

(in “Concerto ao ar livre”)

 

_________________________

 

Augusto Emiliano da Costa nasceu em Tavira em 03/12/1884 e faleceu em Faro a 01/01/1968. Médico, radicou-se em Estói (Faro) e a sua obra poética é constituída por 13 livros e muitos poemas dispersos pelos jornais das décadas de 30 a 50. Apaixonado pelo seu Algarve, pelas suas gentes e pelos seus costumes, num permanente êxtase perante a natureza-mãe algarvia, o seu livro “A Rosairinha” é disso o maior exemplo.

 

 Luís Horta

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 07:43

Abril 26 2010

 

Introdução à conferência “A Língua Portuguesa como

factor de integração e formação da Nação Lusíada ”,

proferida na XXII Convenção Internacional de ELOS, 1999.

 

 

 

É sumamente prazeroso discorrer sobre uma língua falada por cerca de duzentos milhões de pessoas em todo o mundo. Língua nascida no velho Lácio e cultivada, trabalhada, burilada e defendida ― ao longo dos séculos ― por luminares da cultura lusíada como Camões, Alexandre Herculano, Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Padre Antônio Vieira, Machado de Assis, Olavo Bilac, Castro Alves, Fernando Pessoa e o Nobel José Saramago, entre tantíssimos outros.

 

Assim, atendendo ao honroso convite do (então) Presidente de Elos Internacional Máximo Donoso, preparei um singelo texto sobre NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA, como falada nos dias actuais. Mas, como no global world, assim como neste nosso happening, “time is money”, redigi apenas um short speech.

 

A propósito, pouco antes deste morning meeting ― logo após o breakfast ― fui abordado por um repórter, logo ali entre o hall e o living. Veio pedir meu script para inseri-lo em seu house organ. Na realidade, trata-se de interessante newsletter, cujo mailing list é tremendamente “in”, incluindo shopping centers, head offices, commercial boards e business points.

Respondi-lhe que tudo estava no press release, distribuído por e-mail, e disponível no site da internet. Como ele comanda um talk show, insistiu em obter uma interview ou, ao menos, uns flashes.

Disse-lhe “OK”, eu o atenderia junto ao staff da mass media, no coffee-break ou durante a happy hour. Chamei então o boy e pedi-lhe que avisasse o public relations e o barman de que usaríamos a sala Vip, ao lado do night club, perto do play ground. O ambiente deveria ser light, com appetizers, sandwiches, soft drinks e scotch ― tudo self service ― aproveitando tanto o layout como o merchandising do show room, com música de DJ , jazz band e um big crooner.

Quanto ao meu paper, como não tem copyright, pode ser reproduzido ― sem royalties ― por fax, por xerox ou pela media...

 

At last but not at least”, admito que este starting point, este beginning, pode soar algo forçado e snob, merecendo até figurar no Guiness Book por seu por seu record de English words. Retrata, porém, com soft jockes, no american style, nossa permissividade diante da contínua e avassaladora invasão de termos alheios às nossas raízes, estranhos à nossa tradição e avessos à nossa cultura latino-lusíada. Não se trata de xenofobia cega: não como negar a existência de vocábulos estrangeiros ― principalmente em áreas técnicas ― absolutamente indispensáveis e intraduzíveis.

 

Ao uso destes, somente, deveríamos nos restringir.

 

Não seria o caso de se adoptar o mesmo princípio do intercâmbio comercial, em que leis específicas protegem o produto nacional contra a importação de similar estrangeiro?

 

Haveria, assim, a convivência harmónica e salutar entre os termos alienígenas e os vernaculares.

Que diremos, pois, em conclusão:

 

― Adeus aos estrangeirismos supérfluos?

 

ou

 

Bye bye à Língua Portuguesa castiça?

 

 João Baptista de Oliveira

Consultor Empresarial e Educacional, Advogado, Jornalista e Escritor

Governador 1997-99 do D2 de Elos Internacional

www.jboliveira.com.br

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 07:08

Abril 25 2010

 

http://images.google.pt/imgres?imgurl=https://1.bp.blogspot.com/_YEhzC-tW6zk/Smbx95La3KI/AAAAAAAAGtg/cIH__eMP4Fg/s400/Fotografia%2B481.jpg&imgrefurl=http://testaragora.blogspot.com/2009/07/cavaleiro-do-cavalo-de-pau.html&usg=__8Drv3TpdBcXo28O6wMFYcas0CVM=&h=400&w=306&sz=22&hl=pt-PT&start=1&um=1&itbs=1&tbnid=aStNetcgSB26bM:&tbnh=124&tbnw=95&prev=/images%3Fq%3Dcavaleiro%252Bdo%252Bcavalo%252Bde%252Bpau%26um%3D1%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DN%26ndsp%3D20%26tbs%3Disch:1

 

 

 

Vai a galope o cavaleiro e sem cessar

Galopando no ar sem mudar de lugar.

 

E galopa e galopa e galopa, parado,

E galopa sem fim nas tábuas do sobrado.

 

Oh!, que brabo corcel, que doidas galopadas,

– Crinas de estopa ao vento e as narinas pintadas!

 

Em curvas pelo ar, em velozes carreiras,

O cavalo de pau é o terror das cadeiras!

 

E o cavaleiro nunca muda de lugar,

A galopar, a galopar a galopar!…

 

 Afonso Lopes Vieira

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 08:15
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Abril 24 2010

  Castelo de Tavira e torre da Igreja de Santa Maria, ex-minarete da mesquita

http://quintadorestinga.com/wp-content/uploads/2009/10/castelo.jpg

 

Corria o ano de 1156 e, submetido o Gharb ao novo poder Almóada, decidiu o Emir aniquilar a resistência que se mantinha no Al Andaluz nomeando o seu próprio filho Ibn Said para o cargo de Governador de Córdova e de Sevilha. Pouco depois de assumir a função, Ibn Said nomeou novos Governadores para Silves e para Beja mas nada conseguiu relativamente a Tavira e a Alcácer do Sal, verdadeiras «repúblicas marítimas», que haviam estabelecido uma Aliança de protecção mútua e que, dispondo de importantes frotas militares, facilmente resistiam aos cercos almóadas.

 

Tavira era dirigida pela família Banu al-Wahibi à qual pertencia Ali Ibn al-Wahibi que em 1158 foi convidado pelos habitantes de Alcácer do Sal a assumir a governação da «república» do Sado. Mas a cidade estaria um tanto depauperada pelos frequentes confrontos militares com as forças cristãs e o novo Governador conseguiu secretamente estabelecer um período de tréguas com Ibn al-Rink, o filho de Henrique, ou seja, Afonso Henriques. O pior foi que a população descobriu o segredo e, irada, decapitou-o espetando a cabeça na ponta da lança que se dizia ter-lhe sido oferecida pelo nosso Rei fundador.

 

Alcácer do Sal

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4f/Alcacer_do_Sal_Sado.jpeg

 

Alcácer do Sal não caiu na posse dos Almóadas pois foi conquistada em 1160 pelas forças portuguesas; Tavira manteve o seu estatuto de Taifa independente até 1168 integrando-se então no Califado até que em 11 de Junho de 1239 foi conquistada por D. Paio Peres Correia, Grão-mestre da Ordem de Santiago.

 

Até hoje, sempre cristã.

 

Abril de 2010

 

Henrique Salles da Fonseca

 

BIBLIOGRAFIA:

Mattoso, José – D. Afonso Henriques, Círculo de Leitores, Lisboa, Ed. 2006

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 08:13
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Abril 23 2010

 

 

Foto (fonte: Unimed de Uberaba)

 

Além das agressões e assédios sexuais de que a infância e adolescência estão sendo vítimas, de uma forma mais visível, da liberação sexual conquistada a partir da década de 60, com o uso de anticoncepcionais e regras sociais-familiares mais frouxas, a juventude está iniciando a vida sexual mais cedo.

 

No Brasil, na região sudeste, 15 anos é a média de idade para esse inicio, sendo que em áreas mais carentes é ainda menor. Imaturos física e psicologicamente, os jovens usam os métodos anticoncepcionais (quando usam) de modo irregular propiciando falhas na protecção a doenças infecto-contagiosas e a gravidezes indesejadas. Trocam de parceiros frequentemente, o que aumenta de 4 a 6 vezes o risco de desenvolver doenças como HPV (papiloma vírus humano), AIDS/SIDA, sífilis, herpes genital, processos inflamatórios pélvicos agudos e crónicos (DIP), facto que traz graves consequências para as jovens adolescentes, como dores pélvicas crónicas, obstrução das tubas uterinas, gestações ectópicas (tubárias), aderências pélvicas, dispareunia e esterilidade.

 

A adolescência está correndo risco de diminuir sua capacidade de fertilidade. Num mundo que envelhece, é preciso educar e orientá-la para garantir o futuro.

 

Uberaba, 15/04/2010

 

 Maria Eduarda Fagundes

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 08:49
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Abril 22 2010

 

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1 de Maio de 1954

 

Por um daqueles azares mecânicos que nunca acontecem, quebrar-se uma peça dentro da caixa de velocidades do carro (caixa de marchas), este aconteceu, e imobilizou a nossa carrinha numa subida daquela estrada, onde passava, quando muito, um a dois carros por dia.

 

Tracção completamente bloqueada, como se uma força misteriosa tivesse soldado as rodas ao chassis do carro. A custo desviou-se a inútil viatura para a berma a fim de se procurar melhor identificar a avaria e tentar consertá-la, o que se verificou ser impossível, e também para deixar passar eventual outro, a hipótese do nosso socorro.

 

O Sol dera por cumprida a sua missão, vermelho de cansaço depois de um dia de muita luz sobre este mundo, sumia sonolento atrás das árvores e do carro e, como em todas as noites tropicais, num instante as trevas nos evolveram. Não se via rigorosamente nada, além das miríades de estrelas, lindas, brilhantes, que enfeitam de alegria e vida os céus daquelas latitudes, mais ainda quando se está em zona de planalto. Só elas nos olhavam lá de cima e, naquele momento, eram o nosso único conforto.

 

Ali estavam todas elas, cintilando, em alegre conversa, quem sabe se falando de nós, ou até a falarem para nós.

 

Dentro do carro, a minha mulher, barriga a crescer, o ajudante Sebastião, e eu. A perspectiva de ali passarmos a noite, noites sempre frias em altitudes acima dos mil metros, não era agradável, mas era a única possível.

 

 Petiscou-se um pequeno farnel, composto de meia dúzia de biscoitos de socorro, passeou-se um pouco estrada acima e abaixo, procurando dar nomes a algumas daquelas estrelas, para ver se assim o tempo corria mais veloz e o desejado socorro aparecia, mas a solução acabou sendo ajeitarmo-nos, sem jeito, dentro do carro, e tentar vencer a noite com um olho aberto e outro fechado para não deixar que alguém passasse por nós sem ser visto e abordado.

 

As horas paradas dentro do relógio, e nem mesmo os vinte e poucos anos de idade nos impediam de mudar constantemente de posição naquela espécie de dormitar sentados no incómodo banco do desconfortável carro. Só o Sebastião, mais rijo, porque habituado a menos conforto, num instante dormia estendido atrás dos bancos da carrinha, enrolado num cambriquite, corpo e mente tranquilos, naquele respirar compassado e certo, dos justos.

 

O tempo corria. Aliás, o tempo não corria. Nós é que corríamos atrás dele na esperança de ver chegar novamente o dia que, mesmo que não resolvesse o problema mecânico nem fizesse aparecer o desejado socorro, nos traria uma outra sensação de conforto e de menos solidão.

 

A noite até ao mais forte assusta, preocupa. É durante a noite que os pensamentos mais negativos nos assaltam e quando as horas são mais difíceis de passar.

 

Entre o dormitar e abrir os olhos, de repente, no ar, ao longe, uma pequena chuva de faúlhas subia ao céu ao encontro daquelas estrelas. Produto do meio sono, no primeiro instante o pensamento foi acreditar que essas faúlhas seriam pequenas estrelas terrenas, avermelhadas, correndo a abraçar as suas irmãs eternas.

 

Mas logo despertos realizámos que aquelas faúlhas só podiam sair de uma locomotiva dos caminhos-de-ferro, cuja linha acompanhava a nossa estrada, que até àquele momento, não sabíamos a que distância se encontrava.

 

As pequeninas estrelas de fogo continuavam a subir, sem no entanto se deslocarem no caminho.

 

- Vejam! Ali tem uma estação do caminho-de-ferro! E o comboio está parado. Estamos garantidos.

 

Saímos do carro, e lá estava, lá, a uma distância que a noite não permitia calcular com exactidão, o espectáculo. Talvez meia-noite.

 

- Corre lá Sebastião, que a minha mulher com esta barriga tem que ir a passo!

 

Num instante Sebastião sumiu na noite e não tardou ouvir-se o ladrar forte de um cão, ao sentir a aproximação de estranhos. Pelo ronco grave, seria grande!

 

Prudente, Sebastião mais depressa do que desaparecera, regressa da noite, e prefere acompanhar-nos, seguindo prudentemente um pouco atrás de nós! Continuámos a avançar, eu sempre assobiando e chamando o mastim para lhe mostrar que íamos carregados de boas intenções e cansaço!

 

Logo se ouviu gente falando da estação, apontando para o nosso lado um lampião que nos servia para melhorar a orientação, e em pouco tempo com o peludo guarda farejando e rosnando de nariz encostado aos nossos joelhos, fomos recebidos pelo pessoal da linha e sua pequena família.

 

O comboio continuava ali parado, resfolegando e exibindo toda a sua arte jogando para o ar aquele lindo fogo de artifício, como que a chamar-nos e a mostrar-nos o caminho, enquanto tranquilo o pessoal o reabastecia de lenha e água, única função daquela estação.

 

A família do funcionário, mulher e uma filha pequenita, receberam-nos com espanto e carinho, oferecendo-nos um reconfortante e quente café.

 

Explicámos a nossa situação e ficou assente que no dia seguinte se encontraria pessoal para empurrar o avariado carro até ali, onde seria embarcado num vagão e transportado para a cidade. Com esta esplêndida solução, o carro chegaria ao destino um dia e meio depois. Havia que requisitar o vagão à Central, embarcar o carro, etc., mas a verdade é que o problema estava praticamente resolvido. Faltava o dos passageiros, e estes não podiam seguir dali em qualquer trem porque os de passageiros não paravam naquele ponto. Só de carga.

 

 Acordou-se entretanto que o Sebastião, sem ser visto, seguiria dentro do carro, no que o funcionário foi logo dizendo que, de certeza, ele não estaria preocupado em olhar para esses detalhes no momento em que o carregassem no vagão!

 

Agora, tratar de descansar o melhor possível o restante da noite. De manhã se pensaria no que fazer. Ou passava uma boleia ou se chamaria, através do telefone interno da linha do caminho-de-ferro, um qualquer socorro da povoação mais próxima.

 

Regressámos ao nosso hotel de quatro rodas, único disponível nas redondezas, para dormitar mais algumas horas, onde o desconforto foi menos sentido sabendo que boa parte do problema estava já solucionada.

 

 Sebastião, de volta ao seu cambriquite, em escassos segundos retoma o seu profundo sono, que tanta inveja nos fazia!

 

Céu a clarear, outra vez a caminho da estação onde se podia lavar a cara, tomar um café quente e até adquirir alguns alimentos que a boa mulher nos cedeu da sua dispensa para matar o bicho e abastecer o Sebastião para a prevista jornada como clandestino, deitadão dentro do carro.

 

A seguir, contratar quatro homens que empurraram o carro, cerca de um quilómetro estrada acima, comigo dentro, não por comodidade, mas porque sem carregar no pedal da embraiagem o carro não se movia. Depois as duas últimas centenas de metros, já fora da estrada, em leve descida numa estreita picada até à linha, onde ficou aguardando a vinda do seu vagão especial, já encomendado, e que chegaria no final do dia!

 

A esperança da solução para os dois e meio passageiros sobrantes era esperar que o primeiro carro a passar na estrada os pudesse carregar, ou na negativa que avisasse na povoação a seguir para alguém os ir buscar.

 

Sebastião sempre connosco, preocupado com a Senhora, que apesar da aventura e de uma noite mal recostada, estava passando muito bem.

 

Uns quantos paus, muita folha e algumas pedras e estava improvisado ao lado da estrada um assento com todo o conforto que o mato podia proporcionar. A boa vontade até ajeitou uma cama onde a futura e jovem mãe se deitou para melhor descansar e aguardar quanto tempo fosse necessário!

 

Sombra não faltava porque a região era muito arborizada com as imensas plantações de eucaliptos, o combustível das locomotivas, e a temperatura, amena, era até um convite para gozar daquela paz e daquele silêncio que tanto queríamos ver quebrado pelo roncar de um motor.

 

Ali ficámos algumas horas esperando que nos levassem, quer num sentido quer noutro, porque na primeira localidade tudo o mais se resolveria.

 

Finalmente ouve-se um motor ao longe, vê-se a poeira levantada da estrada e em poucos instantes chega um carro, que seguia, por sorte, no mesmo sentido do planalto. Carro, grande, confortável, mas já cheio com cinco passageiros!

 

Boa vontade em África nunca faltou, e num chega p’ra lá, passa a perna por aqui e outras ginásticas, lá conseguimos entrar, tendo eu que levar a minha mulher no colo!

 

Não sei já quanto tempo demorou este final de viagem, mas acabámos chegando ao destino, um pouco moídos, o que a juventude de então não permitiu que nos perturbasse muito.

 

Ao outro dia chegou o carro, e dentro, como se tivesse acabado de viajar em primeira classe, bem disposto, encantado com a aventura que lhe renderia bons dividendos no sungui junto aos amigos, o Sebastião.

 

Reboque para a oficina, dois dias para aprontar, e de novo na estrada.

 

Prosseguimos o nosso caminho agora sempre atentando de que lado nos ficava a linha do comboio, várias vezes cruzada para um e outro lado!

 

Cumprida a missão profissional que me levara às diferentes localidades situadas ao longo da linha, o destino era seguir em direcção ao sul, voltando as costas ao salvador caminho-de-ferro e atravessar uma região muito menos povoada e com difíceis possibilidades de socorros mecânicos!

 

Havia que ir, lá fomos, e como tantas outras vezes, preferindo começar a viagem ao fim do dia, quando se apanha menos calor e a luz dos faróis define melhor os buracos, imensos, daquela espécie de estradas! Além destas vantagens, o viajar de noite ainda permitia que começasse o dia seguinte mais cedo, mais descansado e mais limpo a seguir a um bom chuveiro!

 

África, na primeira metade dos anos cinquenta. Viajar por aqueles caminhos, mesmo sabendo que se chegava ao destino tendo roubado à estrada uns quantos quilos de poeira que, além de encher o carro, se carregava na roupa e em todos os poros do corpo, era uma aventura, talvez melhor, um espectáculo inesquecível.

 

A quietude e a grandeza do espaço, o tempo parado naquelas populações que nos viam passar e sempre saudavam com um sorriso, são imagens que o tempo, por muito que passe, não apaga.

 

Ao fim de largas horas de caminho, correndo pouco que o carro e a estrada, pouco mais do que picada, não permitiam outra coisa, xanas e savanas atravessadas, olhos da fauna selvagem a brilharem logo que os faróis do carro se acendiam, o que dava à jornada todo um pinturesco muito especial, perto da meia noite chegamos ao destino.

 

Povoação de pouca gente, uma larga praça à espera dum desenvolvimento que o tempo não confirmou, e um silêncio total e absoluto acompanhando o descanso da escassa população.

 

No último degrau do edifício da Administração, dominando o largo, num vulto escuro, como um gigantesco ovo de extinto dinossauro, adivinhava-se o cipaio envolto em pesado cambriquite, que ali, à noite, o frio era a sério.

 

O cipaio ficava de noite de guarda ao edifício da autoridade! Nem o ruído nem os faróis do carro apontados para ele o acordaram! Foi necessário sacudi-lo para que, estremunhado, acordasse e nos indicasse onde havia algo que pudesse ser equiparado ou fizesse as vezes de hotel ou pensão.

 

Ali, no segundo prédio ao lado. O comerciante tinha uns quartos que alugava a quem se aventurasse àquelas longínquas paragens.

 

Também não foi fácil acordar esta gente, sem hábito de receber forasteiros a altas horas da noite! Socada várias vezes a porta, ouve-se um ronco lá no interior, depois vê-se o tremular de uma vela ou dum petromax, e logo apareceu toda a família composta de casal e duas filhas, que talvez pelo adiantado da hora e pela nossa pouca idade nos olhavam como alienígenas. Sem muitas delongas que a hora não permitia, mostraram-nos um quarto, fora de casa, com porta para a rua lateral. Dentro, lavatório com um jarro de água, uma espécie de armário, cambando sem um pé e portas de pano velho, e uma velha cama que teimava ainda por manter algumas tábuas a segurar o colchão! Poucas.

 

Uma passagem de água na cara e cabeça para retirar parte da poeira acumulada no caminho e logo estávamos deitados.

 

Depois que apagada a chama do candeeiro de petróleo e nos habituámos à escuridão, bem por cima das nossas cabeças, um buraco no teto, e lá estavam aquelas mesmas estrelas, lindas, na sua infindável conversa cintilante a dizer-nos que podíamos fechar os olhos, tranquilos, que elas velariam pelo nosso sono.

 

Era assim África.

 

Rio de Janeiro, Abril de 2010

 

 Francisco Gomes de Amorim

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 09:41
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Abril 21 2010

Ai de mim! Abateu-se sobre Sefarad a maldição do Céu

Grande é o luto que desabou sobre o Ocidente.

Eis por que as minhas mãos caíram e de meus olhos, de meus olhos brota água

Como fontes choram os meus olhos pela cidade de Ulissana

Um dia ficou como viúva.

Houve assassinatos e gente esfomeada a gemer por todas as partes

A casa das orações e louvores foi vilmente profanada

E gente estranha, hoste feroz, rasgou de Deus a lei verdadeira.

Eis por que choro, abato as mãos e a minha boca brada lamentações,

Pois não há ninguém tão aflito que, como eu, grite:

Quem me dera que a minha cabeça se desfizesse em água…

  

 

25 de Outubro de 1147, dia da conquista de Lisboa aos mouros, dia em que alguns Cruzados do norte da Europa não respeitaram a disciplina combinada pelos seus Chefes com D. Afonso Henriques, dia em que correu sangue pelas ruas da cidade; o saque, a destruição, a volúpia da conquista.

 

Nesse dia foi assassinado o Bispo moçárabe de Lisboa e arrasada a sinagoga. O Bispo não teve tempo para chorar a destruição da sua igreja; o rabi Abraão Ibn Ezra ainda teve tempo para chorar a desgraça que sobre a cidade se abateu.

 

Sim, nesse dia cessava a governação almorávida de Lisboa, a que permitia tanto o culto judaico como o cristão moçárabe de rito visigótico. Uma sociedade tolerante que em breve seria destronada de todo o Gharb pelos radicais Almóadas sob a acusação de fraqueza e corrupção.

 

Mas Averróis cresceu e floresceu com os Almorávidas e foi com eles que passou à História…

 

Abril de 2010

 

Henrique Salles da Fonseca

 

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BIBLIOGRAFIA:

Mattoso, José – D. Afonso Henriques, pág. 179 – Círculo de Leitores, Ed. 2006

publicado por Henrique Salles da Fonseca às 08:40
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